quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

 

Por onde anda aquela amiga OI TV de outrora?

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 

Escrever sobre a mídia televisão pode ser considerado falar de um tema ultrapassado, tamanho espaço ocupado nos dias atuais por outros meios de comunicação que, via internet, se não em visível maior volume, adentram livremente os nossos lares a todo o momento levando informações, cultura e entretenimento, influenciando sobremaneira sobre nossas vidas.

Há cerca de 40 anos, entretanto, quando a esta cidade cheguei, possuir um telefone era considerado um luxo maior que uma necessidade. O serviço da empresa Telemat, com sede em Cuiabá/MT,  era prestado em nossa cidade através de um postinho telefônico, um Posto de Serviços-PS, onde a funcionária telefonista, entre cabos e fios presos a um painel de canais direcionava o pedido de ligação que os cidadãos desta cidade dele se socorriam.

Sim, vivia-se na década de 1980, antes da automação do serviço de telefonia, quando as centrais telefônicas começaram a operar automaticamente, sem a necessidade de passar por uma operadora que direcionava a ligação para um ramal. Antes de entrarem em cena os códigos de área, prefixos DDD e DDI, era só dizer: --quero falar com fulano, e deixava-se o resto por conta da telefonista. Sem elas, ligação nenhuma poderia ser completada.

E lá estavam elas, sentadas junto às suas mesas telefônicas, entre um emaranhado de fios, cabos e botões, essas profissionais tinham de ser discretas, pacientes e educadas. Uma regra era não interferir nas ligações de modo algum. Recebiam treinamento para manter um tom de voz impessoal, repetindo frases curtas e patronizadas como do tipo: -- qual o número, por favor?

No local encontravam-se duas cabines, uma para receber telefonemas de fora, e outra para aqueles que desejavam se comunicar falando com alguém distante. Dava-se o número para a telefonista que, depois de manusear aqueles cabos e terminais mágicos, informava ao usuário, através de uma luzinha verde sobre a cabine, que sua ligação havia sido completada. E lá ia o cidadão adentrando a cabine para realizar, de viva voz, o encontro de suas palavras com a pessoa que o aguardava no outro lado da linha através daquele instrumento de comunicação.

Da mesma forma ocorria com quem esperava uma ligação. O telefone tocava, a telefonista se certificava do nome com quem o interessado queria falar e depois anunciava ao cidadão ou cidadã que ali se encontrava, convidando-o a adentrar a cabine e lá poder dialogar. De porta fechada, ainda assim, algumas vezes era possível ouvir a pessoa gesticulando e falando em alto e bom tom sobre o assunto que tratava e, assim, por conseguinte, informando o que a cidade inteira logo iria saber também do que se tratava.

Com o tempo as linhas telefônicas particulares foram chegando sendo instaladas nos órgãos públicos, escolas, igrejas e o comércio em geral. No bairro Cohab – hoje, Thomaz de Almeida --, onde eu residia no ano de 1986, fui um dos primeiros moradores a adquirir telefone – o 546-1158, que me acompanha até hoje --, com direito a ações ordinárias e preferenciais, papeis que anos depois foram resgatados pelos ‘acionistas’, e que em razão do valor que possuíam chegavam a ser declarados no Imposto de Renda como integrantes do patrimônio pessoal do cidadão à Receita Federal.

Depois, com o advento dos orelhões e o acesso através das fichas, as ligações a cobrar e os telefones comunitários nas praças, a comunicação analógica se tornou rotina, senão, gênero de primeira necessidade para os cidadãos desta comunidade que despertava para o seu progresso urbano desenvolvendo um emergente comércio que cobria a cidade e o campo.

A realidade virtual, a comunicação via satélite e as redes de provedores de internet, permitiram o acesso desse meio de comunicação e difusão de informação às classes populares agregando valores nunca antes imaginado. A ponto de outras mídias unirem-se a esta tecnologia, surgindo os  grandes monopólios e corporações que nos dias atuais controlam as redes sociais em blocos e trustes globais.

Hoje um aparelho de celular cumpre eficazmente o papel de telefone, câmera fotográfica, correio eletrônicos, filmadora, estação de rádio e TV, sala de cinema, caixa eletrônico bancário, bloco de notas, tela de pintura, dicionário e biblioteca virtual, entre outras utilidades; tudo isso disponível por meio de um aparelho que cabe na palma da mão de qualquer um.

Esta revolução tecnológica que presenciamos e que ainda está em curso, entretanto, inaugurou um novo tempo e desafios para governos e autoridades que não mais conseguiam dar conta para as demandas e exigências atribuída ao Estado em relação às necessidades do povo nos seus diversos setores.

As privatizações e o Estado mínimo propaladas pelos capitalistas como salvadores da pátria, acabaram, assim, por garantir aos governantes poderem se eximir do cumprimento de uma infinidade de serviços públicos necessários e exigidos para satisfazer o consumo das massas.

Diante de gestões públicas de idoneidade duvidosas, quando não, escancaradamente corruptas e perdulárias, as privatizações das empresas públicas foram aclamadas e defendidas por uma imensa maioria dos brasileiros. Tudo na esperança de moralizar a administração das estatais e melhorar os serviços de atendimento ao público.

E lá se foram, dez anos depois, as empresas públicas na esteira das privatizações promovidas por FHC, passando os seus controles acionários para grandes corporações e investidores nacionais e internacionais (multinacionais): Vale do Rio Doce, Telebrás, RFFSA, Escelsa, Light, Enersul, Eletropaulo, Cesp, CEE, Meridional, Banespa, Nossa Caixa, entre outras, só para citar algumas cuja lista completa pode ser encontrada facilmente nos sites da Wikipédia da vida.

Uma dessa empresas privatizadas foi a Oi S.A., que nasceu em 1998 a partir da privatização do Sistema Telebrás, e que atua hoje em todos o país. Porém, nem todos sabem que esta empresa passou e ainda passa por uma série de dificuldades financeiras com um rombo bilionário e que a faz hoje sobreviver à custa de reincidentes pedidos de recuperação judicial.

As coisas, entretanto, pioraram para ela a partir de 2009 quando a Oi comprou a já endividada Brasil Telecom que atuava por aqui em Brasilândia, Mato Grosso do Sul. Em 2016 a Oi possuía uma dívida de 65 bilhões. Depois de muitos ajustes e venda de ativos e renegociação da dívida, em 2022, a dívida continua na faixa dos 17 bilhões.

Ainda que persista tal situação de debilidade financeira o que abala sensivelmente a saúde econômica da empresa, seus serviços, surpreendentemente, permaneceram sendo prestados e, confesso, cá num pontinho minúsculo do mapa do Estado de MS, o impacto dos prejuízos e desvalorização da Oi, aos usuários, isso não foi percebido.

Tenho um combo – Oi Total --, com serviço de internet, telefone fixo e TV-HD, e pago um preço que julgo justo, não abusivo. Por anos (e lá se vão 20), tenho recebido o sinal de TV com uma programação com quase uma centena de canais HD, rádio, música, internet e telefone fixo sempre dentro da normalidade. A exceção dos dias de mau tempo, quando há ausência de sinal, o que ocorre igualmente com as demais operadoras.

Não, não tenho acesso às skygatos da vida e os consórcios via códigos mágicos que garantem acesso à internet e TV a tantos mil canais de forma clandestina. O que fascina aqueles que, quando as conseguem, acham que estão levando a maior vantagem que suas virtudes alcançam, não me serve como motivação. Considerado tradicional e conservador em alguns itens, entendo que este jeitinho brasileiro não constrói e também não contribui para a vivência na coletividade que vivemos.

A antena solitária no telhado de minha casa resiste a ação do tempo; parte coberta de poeira e ferrugem, nunca sofreu um reparo ou uma limpeza para fazer brilhar os dizeres de seu cartão de visita Oi TV-HD. Esquecida de si por aqueles que detém a sua concessão, seu sinal aos poucos vai desaparecendo no cenário selvagem, engolida pela concorrência mais ágil e perspicaz.

Os usuários, chamados clientes, de tão poucos, quase já não se manifestam e também não auscultam os últimos estertores de uma Oi outrora forte e vigorosa. Ainda que a empresa exista e insista manter-se viva no inconsciente coletivo através do anúncio de novos atrativos e aplicativos como Minha Oi, Técnico virtual, Fibra ótica, Joyce, Inteligência Artificial, em comerciais que traz belas crianças e cenários de encantar os olhos, seu modus operandi apresenta-se em declínio e não consegue esconder o começo do fim.

Basta o cliente recorrer ao serviço de atendimento ao consumidor-SAC para perceber o quanto ela tergiversa e anda em círculo, antes de chegar ao ponto crítico, desejo do usuário com sua reclamação. Com conhecimento de causa, num caso particular, não há como não se indignar:

Estou a duas semanas sem sinal da Oi TV, num plano Oi Total, um dos mais caros oferecido, e a empresa não consegue concluir uma solicitação de reparo solicitado. Depois de peregrinar por 5 vezes o roteiro digital que o SAC oferece pelo número 10631, número exclusivo para a Oi TV, o serviço não deslancha. Pior: 5 agendamentos com espera de 24 a 48 horas e em nenhum deles o técnico compareceu. Foram 10 dias de espera por um profissional que nunca chegou, a despeito do usuário ter ficado de plantão em casa para recebe-lo e ver realizado o serviço.

Pressionar a tecla 9 do menu de atendimento virtual para falar com um dos atendentes pode ser o começo de uma via crucis que o cliente terá de enfrentar. Ouvir aquela voz mecânica discorrendo sobre todos os serviços (in)disponíveis que a empresa oferece seguido de uma música estridente que se prolonga por minutos -- quando a ligação não cai e o atendente nunca retorna --, é só o começo para fazer ver cumprir uma ordem de serviço aberto num dia qualquer que a empresa já nem sabe quando foi.

De súbito, ao consultar a caixa de mensagens do meu WhatsApp, eis que uma mensagem do Técnico Virtual informa: --o técnico já está trabalhando na sua solicitação. A atendimento já iniciado, indicando inclusive o nome e a fotografia do técnico responsável. Minutos depois a mensagem ainda informa: --você pode ajudar a encontrar seu endereço mais facilmente através do link https://oi.digital/Eto7po

No tal link, pasmem, encontro a lacônica resposta: --seu serviço já foi finalizado. Não é mais possível confirmar os dados por aqui. O seu serviço já foi finalizado.

Como se não bastasse recebo novo link https://oi.digital/k5xsED com o desplante de perguntar: --conte pra gente o que você achou do atendimento do técnico, pedindo para avaliar o serviço que não foi realizado. Indignado, envio a foto e o nome do técnico apontado pela Oi, o Sr. Roberto Fonseca, informando que o técnico não compareceu no local para prestar o serviço. O que, certamente a IA da Oi não soube identificar.

E o curioso nisso tudo é que, quando da solicitação de reparo, nas 5 vezes que o pedido foi registrado (com um longo e cansativo número de protocolo), as atendentes, geralmente atenciosas, anotaram todas as vezes o número do telefone fixo e o celular do cliente para o técnico informar quando chegaria à residência. Em todos esses 10 dias de espera, nenhum aviso foi apresentado pela empresa ao cliente.

Não pretendo romper com o serviço da Oi-TV: é como se despedir de um velho amigo. Porém, diante de tantos desencontros e desrespeito ao consumidor, a tentação é ceder aos apelos e convites das concorrentes que oferecem os mesmos serviços com promessa de melhor atendimento. Se isso acontecer, mais do que um cliente que se despede e que a empresa perde, é a decretação de que o ocaso da Oi S.A. está mais próximo do que este amigo esperava.

Por fim -- como consolo --, espero que na próxima fatura a empresa se digne a realizar um ato de hombridade: lançar a cobrança somente até o dia 18 de janeiro de 2024, quando o sinal da minha Oi-TV ganhou o código E-30 e fui privado de ver aquela velha amiga como nos velhos tempos. Mas ainda espero o restabelecimento dos serviços, o que a todos irá confortar.

Brasilândia/MS, 31 de janeiro de 2024.


Fonte: 

Dutra, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS, Vol. 4-Desenvolvimento, 2ed, Campo Grande: Life Editora, 2023, p. 80.

Privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

A Oi Vai Falir? Segunda Recuperação Judicial da Oi (varos.com.br)

Falência da Oi: o que mudou desde primeira recuperação judicial? (uol.com.br)

https://oi.digital/k5xsED; https://oi.digital/Eto7po; Oi, Acompanhar o técnico

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