quinta-feira, 3 de novembro de 2022

 

Seu Gil: Homens ilustres desta terra também merecem homenagens.

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 


Gilvaes de Almeida Rodrigues, o popular seu Gil, como era conhecido, nasceu no dia 3 de outubro de 1931 na cidade de Avaí, estado de São Paulo. Era filho de Manoel Rodrigues Costa Ferreira e Francisca Theodora de Almeida. Filho de uma família simples formada por cinco irmãos, dividiu com os demais, Rubens, Iolanda, Tonhão e Irene, uma infância e convivência feliz. 

Na sua cidade, o jovem Gil, começou cedo a trabalhar. Inicialmente como servente, depois, balconista. Sua filha, a professora Mirtes Almeida, lembra que a primeira empresa que ele trabalhou foi Ângelo Benetti e Irmãos. Iniciou no dia 30 de janeiro de 1959, observa ela com orgulho do pai com sua carteira de trabalho na mão. 

Chegou a Brasilândia sete anos após a emancipação político administrativa do município, no ano de 1972. Dois anos depois, em 1º de junho de 1974, já ocupava o cargo de gerente no ramo de Posto de Gasolina, Óleos e Lubrificantes, Peças e Assessórios, no então Mato Grosso, para onde a empresa o havia transferido, assumindo uma de suas filiais. 

Depois de trabalhar ainda um ano, entre agosto de 1980 e junho de 1981, na firma Cavalli Cia Ltda, desligou-se da mesma e abriu o seu próprio negócio. Consta nos registros da Receita Federal que em setembro de 1980 ele abriu o estabelecimento Bar Continental, e depois, já em definitivo, dedicou-se às atividades da empresa Comércio de Auto Peças São Cristóvão, e a comércio varejista de gás, com o Depósito de Gás, da Liquigás, localizado na antiga Avenida Panorama, nº 798, no centro de Brasilândia.  

Homem lúcido e dinâmico, neste período também se dedicou à exploração da rede leiteira do município, realizando o transporte de leite produzido nos sítios e fazendas através de uma Linha de Leite, para onde transportava o produto recolhido para a antiga empresa, o Laticínio de Brasilândia, que existia na época, do saudoso e popular, senhor Luiz do Laticínio.  

Seu Gilvaes era um amante da leitura e de fino trato. Era um homem que escondia a sua sabedoria, sendo que poucos o conheciam a fundo. Participante ativo da vida social da cidade destacava-se como um mentor e conselheiro dos demais. Razão pela qual era convidado para participar das instituições e entidades, como a Associação Atlética Brasilandense-AAB, entre outras que ajudaram o fortalecimento do município que ainda erguia nestes tempos primeiros suas hostes e horizontes.  

No âmbito da política, filiado ao PTB, foi candidato a vereador no ano de 1988, não se elegendo. Também participou nas eleições de 1992, por este mesmo partido, como candidato a Vice-Prefeito ao lado da candidata Prof.ª Sandra Aparecida Louzada da Costa, ano em que foi eleita a prefeita Neuza Paulino Maia. Depois de uma rápida passada ainda pelo PSDB no ano de 1999, aposentou-se do trabalho e da política, não sendo esta sua verdadeira vocação, homem inteligente que era.  

Ao lado de dona Emilia Bichoff Rodrigues, com quem teve cinco filhos – Miriam, Mirtes, Merina, Mary e Marcos --, construiu sua vida com simplicidade, dignidade e respeito. Casal participativo também na vida religiosa da comarca de emergia, nos primeiros anos de existência da Paróquia Cristo Bom Pastor, o casal atuou de forma decisiva ajudando a comunidade católica nas festividades e promoções realizadas, desde o tempo das Irmãs Missionárias, ele como presidente do Conselho Paroquial, até depois da chegada do padre Lauri Vital Bósio.  

Antes do seu falecimento, que ocorreu na cidade de Tupi Paulista/SP, em seis de janeiro de 2016, o autor deste artigo teve uma experiência singular com esse pioneiro de Brasilândia que depois de 1991, já aposentado, teve tempo para desfrutar a beleza e a paisagem da vida que o cercava. Encontrava-se o seu Gil, ali sentado num degrau da Praça Santa Maria observando os taxi e caminhões de frete que por ali estacionavam.  

O dia estava radiante e era pela manhã. Ao passar por ele, eis que o cumprimento e sento ao seu lado em silêncio. Observo que ele tinha um livro nas mãos, um livro de minha autoria que há alguns anos havia lançado em Brasilândia. Logo ele me diz: eu leio tudo o que você escreve, até os jornais. E apreciava. O que me gratificou muito naquele momento. E logo nos alongamos na conversa e ele começou a me contar outras histórias, uma atrás da outra.  

E eu ali, encantado, sem gravador, querendo tudo anotar. O ruído da rua, os transeuntes, a sua voz moderada, e aos poucos fui vendo fio daquelas histórias ir se perdendo e eu impotente sem ter muito que fazer, a não ser ouvir. A tarde anunciava que o tempo de partir havia chegado. Despeço-me daquele homem lá no ano de 2015, para reencontrá-lo, agora, anos depois, através da narrativa de sua filha, professora Mirtes, que revive também em silêncio a saudade. O que nos resta lamentar e agradecer prestando-lhe essa tardia homenagem. 

Brasilândia/MS, 2 de novembro de 2022.


Foto: Arquivo José Cândido da Silva, 2015). Fonte: DUTRA, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS, Volume 1-Pioneiros, 2. Ed. Brasilândia/MS, Edição do Autor, 2020, pág. 190-191.

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