Incêndios: alienam
vitam et bona salvare
Carlos Alberto dos Santos
Dutra
Falar de incêndio é sempre algo assustador. Bem melhor sabe quem o viu de perto ou já sofreu as consequências de um sinistro. A dor de ver seus bens, sua propriedade e todos os seres vivos, animais e plantas, serem consumidos pelas chamas é uma imagem que somente quem esteve lá pode mensurar o tamanho.
Arrisco a dizer que, com certeza, estes sobreviventes e aqueles que se solidarizaram com as suas dores e perdas, e ajudaram a combater as chamas, alimentados pelos laços de parentesco e laços da amizade, podem se considerar cidadãos e cidadãs renascidos das cinzas, mais sensíveis e atentos a qualquer pedido de socorro, ao menor sinal de fumaça e princípio de incêndio, esteja onde estiver.
É o que pude perceber ao contemplar nos últimos dias, por várias ocasiões, o grupo do WhatsApp intitulado “Incêndios Brasilândia”, formado por 368 membros e que dedica exclusivamente à comunicação de ocorrências de incêndios em Brasilândia/MS e região.
Na condição de Secretário de Meio Ambiente e Turismo e membro da Coordenadoria Municipal da Defesa Civil fui apresentado a este grupo passando a integrá-lo, juntamente com Corpo de Bombeiros, Prefeitura, Usina Caeté, prestadores de serviços da Suzano, Eldorado e demais empresas, entidades e munícipes, revestidos de verdadeira força-tarefa vigilante que se especializou na responsabilidade de comunicar em tempo real a ocorrência de incêndios.
A celeridade e eficácia da ação e o modus operandi deste grupo revelou-se surpreendente e digna de elogio, tendo sido possível aferir a importância deste grupo, dias atrás, quando a equipe se mobilizou em torno de uma notícia de ocorrência de incêndio nas proximidades do perímetro urbano do município de Brasilândia/MS.
O roteiro dos acontecimentos, que reproduzimos aqui, apenas cinco minutos de toda uma operação que durou horas e envolveu quase uma centena de voluntários fornecendo informações e lançando-se diretamente no combate ao incêndio, tem o intuito de exaltar a relevância deste trabalho e servir de lume nestas ocasiões.
Corria o dia 23 de agosto último, um sábado, e no grupo “Incêndios Brasilândia” uma fotografia de vacas paridas tendo ao fundo, sobre a mata próxima da propriedade, aparecia uma forte fumaça e sinal visível de incêndio. A postagem de Eder C. informava às 14:52 que o incêndio teria origem “no canavial atrás do cemitério, propriedade do Bel”.
No minuto seguinte, o contato de Eduardo Maçã, dos Serviços Urbanos, da Prefeitura é acionado, ao mesmo tempo em que Valdecir postava um áudio solicitando apoio “aqui no Bel”, confirmando que havia “pegado fogo no corredor da cana, com perigo de se alastrar”. Em seguida Diomarci informa que havia passado por um incêndio “perto de Bataguassu, do lado do rio pardo”! Valdecir pergunta, então, “qual as coordenadas?” deste último incêndio. Ao que Diomarci responde que “estava parecendo que era na reserva”.
As 14:56, o Samuel, da Prefeitura, posta uma foto da fumaça e a Renata também posta foto. Sobre isso, Samuel informa que estava em frente do sitio do Bel, perto do loteamento Nova Brasilândia e o incêndio, segundo ele, estava acontecendo “lá dentro da cana”. Na sequência, Aires S. informa: “máquina pegando fogo, colhedeira”. Crescêncio confirma; “fogo na fazenda Santa Maria, do Bel”, próximo ao bairro João Paulo, também posta foto.
As 14:58 Nathan posta as coordenadas solicitadas de onde o incêndio estava acontecendo. Ao que Eduardo informa que “equipe já acionada, pessoal já estão chegando”. O mapa com as coordenadas é postado. Samuel confirma: “dois focos de incêndio”. O segundo “é aqui no fundo do Almanara”, perto do Luiz do Café. E alerta: “pessoal da Suzano, atenção: fogo na floresta de vocês”.
As 15:00, o Murillo V. pergunta: “pessoal do canavial, alguém ciente?” Matheus, da Caeté responde: “positivo”, pessoal já está a caminho. Samuel pergunta “onde é o outro foco?” Nathan responde: “fazenda jandaia, fundos do Almanara”. Um minuto após, o cabo Joueber, do Corpo de Bombeiros de Três Lagoas/MS envia um áudio solicitando confirmação se tem alguém já se deslocando para o local. Murillo pergunta: “possuem máquinas?”(...).
O diálogo descrito acima
é apenas um fragmento, uma réstia do empenho e compromisso de pessoas que, em
meio a angustia e a pressa, em meio a falta de recursos e instrumentos, lançam
o seu grito de socorro e apelo à solidariedade comunitária para debelar as
chamas, sob a ameaça e a escassez do tempo.
Aparentemente notícias e informações que podem soar desconexas, mas que, no planejamento das operações são uteis, sobretudo quanto a localização, pessoal envolvido, gravidade e dimensões do sinistro. Operações, como estas, que envolvem engenharia mecânica, florestal e humana que adquiriremos a experiência e expertise para lidar com estes acontecimentos. Portanto, elogiável o trabalho de equipe aqui realizado.
Diante de Vidas
Alheias e Riquezas a Salvar há de se agradecer a Deus pelo esforço de todos, parabenizar e valorizar cada um que deu a sua parcela nestas e outras operações e que se dedicam a esta causa. Diante do exemplo de interação e comunicação que opera e
alimenta a rede de solidariedade “Incêndios Brasilândia” que se torna
extremamente necessária nestas horas, há de se pôr em alerta, também o poder
público, para o apoio a este grupo e à Defesa Civil de seus cidadãos e cidadãs.
Brasilândia/MS, 1º de setembro de 2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário