As lembranças e a saudade em migalhas
Diác. Carlos Alberto dos Santos Dutra
Neste clima ainda de jubileu da Paróquia Cristo Bom Pastor, depois de ter sentido intensamente os efeitos de uma celebração tão revigorante para os católicos paroquianos que puderam agradecer aos Céus a caminhada trilhada até aqui pelos caminhos da fé, os dias que se seguem também podem nos levar a contemplar mais amiúde as fotografias antigas cheias de vida e lembranças em migalhas que guardamos na memória daqueles tempos.
São nomes e fatos esparsos, de um passado distante, às vezes imperceptível, mas de um significado profundo para aqueles que lá estavam e viveram cada momento, presenciando com os olhos a caminhada que seus pés faziam, sem mesmo notar o quanto de importância aquele gesto representou e que alguma pena distraida registrou, além do Senhor da história que tudo vê, contemplou.
E lá estava um berrante tocando dentro da Igreja Matriz. Sim, um berrante ressoando seu som por entre as paredes repletas de santos num tempo de tanta devoção. Foi no lançamento do Projeto Rumo ao Novo Milênio durante a missa celebrada no dia 1º de dezembro de 1996, quando um jovem tocou o berrante: --Atenção, atenção! Dizia ele, --Caminhamos rumo ao novo milênio! E tocou o berrante. --O tempo se cumpriu e Jesus armou sua tenda entre nós! E lá se ia o rapaz tocando o berrante, adentrando a nave principal da igreja. Seu nome, não sabemos dizer, mas com certeza olhos de mãe e pai ou padrinhos e amigos hão de lembrar e o saudar.
Outra lembrança que quase todos ainda guardam é da bonita imagem do casal Celestino Matias da Silva, o seu Celeste e dona Galdina Ferreira de Jesus que se dedicaram à Igreja desde o início da evangelização nestas terras, com a celebração da primeira missa campal em 1957. Exemplo de humildade, mesmo depois da criação da Paróquia, em 1972, dona Galdina permaneceu ajudando as irmãs missionárias nas celebrações, cursos de batismo, catequese, preparação aos noivos, assistência religiosa nos velórios; e seu esposo, seu Celeste firme como um dos pioneiros da pastoral do dízimo.
Nestes tempos primeiros, quando a pastoral era realizada sob a poeira da estrada, podemos lembrar também o pesqueiro Changrilá. Sim, quem diria, a ceva de propriedade do senhor Maurício Ferrini, que ficava localizada nas margens do rio Paraná. Foi no dia 18 de outubro de 1994 que ele e sua família recepcionou o clero diocesano de Três Lagoas, que veio à Brasilândia, num encontro de confraternização que contou com a presença do padre salesiano Giovani Zarbini, padre que no ano seguintes foi nomeado bispo de Guarapuava, no Paraná. Uma honra para Brasilândia.
São pequenos acontecimentos, mas de profundo significado para aqueles que, de alguma forma, participaram destes eventos. Certa vez, durante a visita pastoral do bispo Dom Izidoro Kosinski à Brasilândia, ele, depois de visitar os indígenas Ofaié que se encontravam na barranca do rio Paraná, no dia 10 de maio de 1989, participou do cortejo fúnebre que conduziu a indígena Dirce de Souza, que havia falecido grávida de sete meses no dia anterior. Na ocasião, o féretro foi conduzido pelo bispo no seu próprio veículo F-1000 que muitos estão lembrados, até o cemitério municipal, num gesto de solidariedade e profunda humanidade.
Outro acontecimento foi o caso do primeiro telefone da Paróquia Cristo Bom Pastor, de número 546-1152. Ele foi instalado no dia 30 de outubro de 1986 e o número permanece até hoje, tendo sido adquirido inicialmente em nome do senhor Domingos Cristóvão Ribeiro, membro atuante na Igreja em diversas Comissões Paroquiais.
Sobre a extração do látex, matéria prima da confecção da borracha, o assunto foi objeto de muita atenção do bispo Dom Izidoro Kosinski, durante uma visita pastoral que ocorreu no dia 27 de outubro de 1995. Na fazenda Almeida, do casal Dr. Anísio Gomes de Almeida e dona Áurea, que eram membros da Comissão de Construção da atual igreja matriz da Paróquia, o bispo ouviu com muito interesse as explicações sobre o processo desde o plantio da seringueira até a extração do látex.
Entre os diversos paroquianos que participaram ativamente da comunidade em eventos especiais pode ser lembrado um dos que participou da ordenação episcopal de Dom Antônio Majela Reis, que foi 1º bispo nomeado para Três Lagoas. Tratava-se do casal seu Estevão Domingos da Costa e sua esposa dona Antônia que viajaram de ônibus, acompanhados da irmã Margarida até Mariana, Minas Gerais, onde participaram da cerimônia de sagração episcopal, ocorrida no dia 27 de março de 1978. Uma bênção a participação de Brasilândia em terra distante.
Desde a criação, a Paróquia Cristo Bom Pastor nunca descuidou a caridade. Antes da inauguração do Salão Paroquial que aconteceu em 1978, todo o mês de dezembro ocorria na Paróquia a Festa da Fraternidade tendo como local o Grupo Escolar Arthur Höffig e que angariava recursos para aquisição de alimentos que era distribuído à população carente do município no chamado Natal do Pobres.
No tempo das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado também aconteceu um fato curioso. Durante uma palestra realizada no dia 11 de janeiro de 1979 sobre os serviços na Igreja, pela Irmã Zélia da Silva, ela pediu aos presentes que indicassem cinco nomes para compor a nova Comissão Administrativa da Paróquia. E sabe o que aconteceu? Os mais votados, após serem consultados, todos se recusaram a aceitar o cargo. Só depois de alguns minutos de silêncio é que o senhor Gilvaez de Almeida levantou-se e deu o seu “sim”, sendo aclamado presidente e tendo sido acompanhado por outros membros atuantes da comunidade, senhor Antônio Coelho Vicente, seu Agostinho da Silva e o senhor Onofre de Souza Oliveira que assumiram a coordenação administrativa da Paróquia.
Durante as visitas pastorais que Dom Izidoro Kosinski, bispo de Três Lagoas fazia à Brasilândia ele sempre escolhia uma ou duas famílias para celebrar missa. O dia 27 de outubro de 1995 foi uma dessas vezes. Nesta ocasião ele celebrou a Eucaristia na residência do casal José Medina e dona Antônia, na barranca do rio Paraná, oportunidade em que lá compareceram mais de 30 pessoas.
As lembranças são muitas, desde o tempo do padre Lauri Vital Bósio que, num dos aniversários da cidade, no dia 25 de abril de 1999, recebeu o título de Cidadão Honorário de Brasilândia, em cerimônia ocorrida na Associação Atlética Brasilandense-AAB, ocasião em que também foram agraciados com a comenda o senador Ramez Tebet e o governador José Orcírio Miranda dos Santos.
As obras do presbitério e sacristia da 2ª Igreja Matriz, por exemplo, iniciaram no dia 14 de abril de 1994, pelas mãos do senhor Manuel, membro da Paróquia Santa Rita de Cássia, de Três Lagoas. E o piso da área interna, cerca de 450 m2, desta mesma igreja começou a ser sentado no dia 14 de outubro daquele mesmo ano pelo senhor Tarcílio, está registrado no livro tombo da Paróquia.
Outro acontecimento ocorreu no ano de 1995, quando o primeiro barbeiro de Brasilândia, seu José Barbosa e sua esposa, dona Joana comemoraram seus 60 anos de casados (Bodas de Diamante) com uma bela celebração de ação de graças realizada na igreja matriz e onde a família toda se reuniu para festejar.
São lembranças que somente quem as viveu sabe a importância que elas tiveram. Quanto a nós, às vezes, meros espectadores, pois não estávamos lá no momento, só podemos compartilhar a alegria de seus corações e, algumas vezes, de seus filhos e netos que os relembram e os festejam. No fundo todos sentem a mesma alegria de ter chegado até aqui e poder contemplar tudo isso, pois sem querer, também nós estamos fazendo parte desta história que começa aqui e termina no alto dos Céus.
Mais histórias sobre a Paróquia Cristo Bom Pastor: https://carlitodutra.blogspot.com/2022/06/revista-comemorativa-ao-jubileu-da.html
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