segunda-feira, 13 de junho de 2022

 

Não chores por mim Amazônia.

Carlos Alberto dos Santos Dutra








Por entre as folhas da mata lá se encontram eles, indefesos. Os gritos ao longe, de ontem, que serviam para os aproximar e comunicar, hoje são encurtados pelos celulares e gps que facilmente os encontram.

As máquinas que revoltam a terra em busca do ouro, as armas de fogo que alcançam longe tirando-lhes a vida, e a violência de grupos de hábitos estranhos que transitam e traficam além fronteira, tudo os assombra e os afugenta.

Ao verem o helicóptero e o barco acenam aparentemente pedindo ajuda, mas estão sempre fugindo do contato. Não sabem em quem confiar, em quem acreditar. As matas e seus rios parecem que vão encolhendo enquanto uma multidão de estranhos vão lhe tomando as terras, consumindo-lhe as forças, oferecendo-lhes favores em troca de suas almas.

É neste contexto de medo e violência que o coração humano de desprendidos cidadãos se lança revestidos de inexplicável altruísmo, em sua defesa. Clamam aos poderes do mundo por justiça, e denunciam um estado de coisas que foge à compreensão do restante do mundo dito civilizado. O lado mais obscuro e perverso da condição humana que se passa no interior do subsolo da floresta amazônica é o roteiro de seus libelos.

Situação claramente sem controle alimentada pela omissão oficial, quando não incentivada pelos próprios poderes instituídos que deveriam ser os responsáveis para impedir que essas tragédias acontecessem: a morte de indígenas, a invasão de suas terras, a extração da madeira, o garimpo clandestino e o livre trânsito de homens armados do tráfico rumo à fronteira.

O desparecimento e provável assassinato do servidor da Funai, Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos há uma semana, é o retrato mais recente desta tragédia cujas autoridades não têm a hombridade de revelar e reconhecer o quanto é culpada por tudo isso que está acontecendo.

Não chores por mim Amazônia: chore e lute para reverter a política ambiental desastrada do atual governo, para acabar com a intervenção política na Polícia Federal e Funai que substituiu servidores titulares por nomes apadrinhados sem qualquer intenção de pacificar a região. Lute para garantir o direito que os povos da floresta exigem e merecem, devolvendo ao lugar a segurança e a dignidade que a Amazônia inteira espera para viver em paz...

Enquanto isso, a terra se revolta em gemidos de lamento e morte, colecionando seus corpos e lágrimas, suas vítimas e mártires... Até quando?

Brasilândia/MS, 13 de junho de 2022.

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