sábado, 11 de junho de 2022

Novena do Jubileu da Paróquia

 

O círculo bíblico e o reencontro de dona Ana

Carlos Alberto dos Santos Dutra



A mensagem recebida pelo WhatsApp fez aquele rosto irradiar de alegria. Quem lhe dava a notícia era Ceiça, a filha zelosa que se esmerava nos cuidados com a mãe. O círculo bíblico iria retornar seus encontros. E a proposta era que esta primeira reunião fosse realizado na casa daquela octogenária.

Foi a motivação que faltava para aquela senhora que, no alto de seus bem-vividos 89 anos de idade, voltasse a se sentir uma menina, e deixasse de lado a caixa de bordado que vinha se dedicando nos últimos dois anos, desde a pandemia.

Mesmo com o agravo que lhe paralisou o lado esquerdo do corpo e a dor da saudade do esposo Raimundo que cumpriu sua missão aqui na terra e partiu para o Céu deixando-a só, ela, dona Ana nunca desanimou. Continuou a vida dedicando-se a confeccionar seus delicados guardanapos, colocando-os à disposição da obra assistencial da Canção Nova, da qual tornou-se devota colaboradora.

A notícia da realização do 1º Encontro da Novena em Preparação ao Jubileu dos 50 anos da Paróquia Cristo Bom Pastor em sua casa fez com que, naquele dia, ela despertasse mais animada do que o costume. Enquanto as horas corriam, lá estava aquela senhora e seus cabelos muito brancos sentada com os olhos no bordado em ponto cruz, porém, com o coração palpitando a espreita do encontro daquela noite.

Afinal, há mais de 30 anos aquele grupo de moradores se reunia para refletir a Palavra de Deus, desde o início da criação do bairro Cohab Thomaz de Almeida. E lá estava dona Ana e seu Raimundo, sob o impulso de minha mãe, dona Laura, vinda lá da pampa gaúcha, se somando ao grupo que só foi crescendo e se transformando em símbolo de fé e persistência na oração, nutrido na alegria e na amizade daquela gente.

Dona Ana era só encantamento. Ao olhar a sala de sua casa e ver aqueles rostos amigos, alguns já desfigurados e de cabelos brancos, não lhe cabia no peito tanta alegria e emoção.

A novena relembrava a caminhada de evangelização dos 50 anos da Igreja em Brasilândia, mas seu pensamento a fazia viajar em recordações locais: cada vizinho, cada família e tantos amigos que acompanharam aquela santinha -- Nossa Senhora das Graças --, andando de casa em casa, e reunindo em torno de si os pedidos e preces de agradecimento, todas as semanas ao longo dos anos.

Sentada ali, diante de todos, pediu a Deus por cada um daqueles que se mantiveram firmes e perseverantes, mesmo por aqueles que se encontravam ausentes: o tenente Neto e dona Deurides; seu Anibal e dona Júlia; seu Nelson e a saudosa dona Odília; o Carlito e dona Vilma; o Magno; a Vânia; dona Francisca; dona Diva; a Marlene; dona Neide; o Vicente e os saudosos seu e dona Nice; dona Luzia e dona Izalina. Tantas lembranças e alegria pelo nome dos mais recentes que se achegaram ao grupo: o João, a Bete e a grande família do patriarca seu Raimundo sempre presente.

Ao som e melodia dos cantos que faziam chegar ao Céus nossas preces, foi nestes Cículos Bíblicos que uma geração de famílias viram seus filhos crescer, embalados na fé e no amor da Virgem Maria, nutridos na proteção do Pai e na fraternidade do Espírito Santo.

Hoje, os filhos estão criados e dona Ana os contempla olhando nos olhos de cada um e sorri: tenho muito a agradecer a Deus por ter chegado até aqui e poder me sentir abraçada e querida por todos.

Com voz firme e compassada ela sorri admirada com o tamanho das letras -- bem grandes --, do livreto da Novena e dá início aos Ritos Iniciais do encontro como Comentarista. Naquela noite uma luz iluminou o portal daquela casa e da boca de uma senhora abençoada se ouviu uma singela porém poderosa oração que brotava do átrio de seu coração. Obrigado dona Ana. É muito bom estar de volta e celebrando novamente juntos.


Brasilândia/MS, 11 de junho de 2022.

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