quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

 

CF 2023: Dai-lhes vós mesmos de comer.

Texto Base CNBB/Carlos Alberto dos Santos Dutra




Há mais de 50 anos a Campanha da Fraternidade, da Igreja Católica, todos os anos, reflete no tempo quaresmal, uma situação bem específica vivida pelo povo brasileiro, cuja imensa maioria possui íntima relação com a fé cristã.

Entende a Igreja que a situação de pecado, quando não enfrentada, gera destruição e morte. Neste ano o convite é para refletir neste tempo de preparação para a Páscoa do Senhor, sobre o tema da fome, oportunidade e tempo propício à conversão pessoal, comunitária e social.

É a terceira vez que o tema da fome é apresentado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB por meio da Campanha da Fraternidade. A fome, sem dúvida, é a realidade mais atual vivida nos dias de hoje: fome de Deus, fome de paz, fome de fraternidade, fome de pão e de justiça, e tudo que desumaniza.

Isso porque, quando a fome bate à porta de uma família, isso é sinal de alerta; quando o alimento não chega a todo o ser humano; quando mães e filhos gritam e choram, reclamam e reivindicam por alimento, tudo isso é sinal de que algo está errado, levando o mundo e a cada um de nós a um questionamento a respeito do rumo que estamos tomando como cidadãos e sociedade.

O Papa Francisco lembrou em sua mensagem ao diretório argentino do Comitê Pan-Americano de Juízes pelos Direitos Sociais e a Doutrina Franciscana, em 2021 que não há democracia se existe fome. Por isso a mensagem da Campanha da Fraternidade, neste ano vai mais longe e profunda o tema da fome. E assevera em obediência ao chamado do próprio Jesus: Vinde (...) eu estava com fome, e me destes de comer; todas as vezes que fizeste isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!  (Mt 25,34-40).

Razão pela qual a Igreja neste período -- que inicia na quarta-feira de cinzas, dia 22 de fevereiro e se estende até a quinta-feira santa, dia 6 de abril --, busca sensibilizar a sociedade e a si mesma para enfrentar o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos e ações que transformem esta realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo cujo lema da campanha destaca em epígrafe: Dai-lhes vós mesmos de comer! (Mt. 14,16).

Esmera-se, assim, no convite aos cristãos para que possam: compreender a realidade da fome à luz da fé em Jesus Cristo; desvelar as causas estruturais da fome no Brasil; indicar as contradições de uma economia que mata pela fome; aprofundar o conhecimento e a compreensão das exigências evangélicas e éticas de superação da miséria e da fome, e acolher o imperativo da Palavra de Deus, que nos conduz ao compromisso e à responsabilidade fraterna.

A Campanha convida, igualmente, a todos: investir esforços concretos em iniciativas individuais, comunitárias e sociais que levem à superação da miséria e da fome no Brasil; estimular iniciativas de agricultura familiar agroecológicas e a produção de alimentos saudáveis; reconhecer e fomentar iniciativas conjuntas entre comunidade de fé e outras instituições da sociedade civil organizada; e, por fim, mobilizar a sociedade para que haja uma sólida política de alimentação no Brasil, garantindo que todos tenham vida.

No rol das propostas de como o cristão pode agir para transformar a realidade da fome, no plano pessoal, o Texto Base da CF 2023 sugere: partilhar do muito ou do pouco que se tem com aqueles que mais necessitam; praticar a partilha na família, na escola, no trabalho etc.; jejuar em atitude solidária com aqueles que pela miséria são obrigados ao jejum; converter o resultado do seu jejum e da sua penitência quaresmal também em alimento para quem precisa; questionar o próprio estilo de vida e de alimentação; ser solidário com os que passam fome aguda – jamais renunciar à solidariedade;

E ainda colaborar nas campanhas de arrecadação de alimentos de entidades sérias e transparentes; abolir o desperdício de alimentos, estabelecendo práticas de reaproveitamento saudável; realizar uma doação significativa para a Coleta Nacional da Solidariedade, no Domingo de Ramos; participar dos conselhos de direitos (humanos, da criança e do adolescente, da juventude, da pessoa idosa, da saúde...); praticar o voluntariado; envolver-se nos trabalhos e nas ações que já existem na comunidade, (no caso de Brasilândia, AVCC, Apae, Pastoral da Criança, e outras entidades assistenciais);

Desafia os cristãos também a preparar uma refeição saudável e nutritiva no Domingo de Páscoa e convidar uma família carente (desafiante, não?); participar mais ativamente das discussões sociais de políticas públicas; envolver-se na política com espírito cristão, não lavando as mãos como Pilatos nem difundindo a ideia errônea de que política não presta nem é lugar de cristão; tomar mais conhecimento e envolver-se nas iniciativas públicas (governamentais ou não) de combate à fome e à pobreza no município onde vive; apoiar e participar de alguma pastoral social em sua paróquia (...).

Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios (Mt 14,20). Isso nos consola e nos diz que isso é possível. Que o tema da fome, sua reflexão e ações, portanto, envolva toda a Igreja, transbordando também para o todo da sociedade. 

Que sejamos, pois, envolvidos por este esforço de evangelização e educação capaz de gerar convicção e atitudes evangélicas e proféticas em busca da superação do resistente egoísmo e do fatal individualismo que nos afasta daquele Deus que encheu de bens os famintos (Lc 1,53), cantado por Maria no seu Magnificat.

 Brasilândia 16 de fevereiro de 2023.

Fonte: CNBB, Fraternidade Fome. Campanha da Fraternidade 2023. Texto Base, Brasília-DF, 2022.

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