CF 2023: Dai-lhes vós mesmos de comer.
Texto Base CNBB/Carlos Alberto dos Santos Dutra
Há mais de 50 anos a Campanha da Fraternidade, da Igreja Católica, todos os anos, reflete no tempo quaresmal, uma situação bem específica vivida pelo povo brasileiro, cuja imensa maioria possui íntima relação com a fé cristã.
Entende a Igreja que a situação de pecado, quando não
enfrentada, gera destruição e morte. Neste ano o convite é para refletir neste tempo
de preparação para a Páscoa do Senhor, sobre o tema da fome, oportunidade e
tempo propício à conversão pessoal, comunitária e social.
É a terceira vez que o tema da fome é apresentado pela
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB por meio da Campanha da
Fraternidade. A fome, sem dúvida, é a realidade mais atual vivida nos dias de hoje: fome de Deus, fome de paz, fome de fraternidade, fome de pão e de
justiça, e tudo que desumaniza.
Isso porque, quando a fome bate à porta de uma família, isso é sinal de alerta; quando o alimento não chega a todo o ser humano; quando mães
e filhos gritam e choram, reclamam e reivindicam por alimento, tudo isso é sinal de que
algo está errado, levando o mundo e a cada um de nós a um questionamento a respeito do rumo que
estamos tomando como cidadãos e sociedade.
O Papa Francisco lembrou em sua mensagem ao diretório
argentino do Comitê Pan-Americano de Juízes pelos Direitos Sociais e a Doutrina
Franciscana, em 2021 que não há
democracia se existe fome. Por isso a mensagem da Campanha da Fraternidade,
neste ano vai mais longe e profunda o tema da fome. E assevera em obediência ao
chamado do próprio Jesus: Vinde
(...) eu estava com fome, e me destes de
comer; todas as vezes que fizeste isso a um destes mínimos que são meus irmãos,
foi a mim que o fizestes! (Mt 25,34-40).
Razão pela qual a Igreja neste período -- que inicia
na quarta-feira de cinzas, dia 22 de fevereiro e se estende até a quinta-feira
santa, dia 6 de abril --, busca sensibilizar a sociedade e a si mesma para
enfrentar o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por
meio de compromissos e ações que transformem esta realidade a partir do
Evangelho de Jesus Cristo cujo lema da campanha destaca em epígrafe: Dai-lhes vós mesmos de comer! (Mt.
14,16).
Esmera-se, assim, no convite aos cristãos para que
possam: compreender a realidade da
fome à luz da fé em Jesus Cristo; desvelar
as causas estruturais da fome no Brasil; indicar
as contradições de uma economia que mata pela fome; aprofundar o conhecimento e a compreensão das exigências evangélicas
e éticas de superação da miséria e da fome, e acolher o imperativo da Palavra de Deus, que nos conduz ao
compromisso e à responsabilidade fraterna.
A Campanha convida, igualmente, a todos: investir esforços concretos em
iniciativas individuais, comunitárias e sociais que levem à superação da
miséria e da fome no Brasil; estimular
iniciativas de agricultura familiar agroecológicas e a produção de alimentos
saudáveis; reconhecer e fomentar
iniciativas conjuntas entre comunidade de fé e outras instituições da sociedade
civil organizada; e, por fim, mobilizar
a sociedade para que haja uma sólida política de alimentação no Brasil,
garantindo que todos tenham vida.
No rol das propostas de como o cristão pode
agir para transformar a realidade da fome, no plano pessoal, o Texto Base da
CF 2023 sugere: partilhar
do muito ou do pouco que se tem com aqueles que mais necessitam; praticar a partilha na família, na
escola, no trabalho etc.; jejuar em
atitude solidária com aqueles que pela miséria são obrigados ao jejum; converter o resultado do seu jejum e da
sua penitência quaresmal também em alimento para quem precisa; questionar o próprio estilo de vida e de
alimentação; ser solidário com os que
passam fome aguda – jamais renunciar à solidariedade;
E ainda colaborar
nas campanhas de arrecadação de alimentos de entidades sérias e transparentes; abolir o desperdício de alimentos,
estabelecendo práticas de reaproveitamento saudável; realizar uma doação significativa para a Coleta Nacional da
Solidariedade, no Domingo de Ramos; participar
dos conselhos de direitos (humanos, da criança e do adolescente, da juventude,
da pessoa idosa, da saúde...); praticar
o voluntariado; envolver-se nos
trabalhos e nas ações que já existem na comunidade, (no caso de Brasilândia,
AVCC, Apae, Pastoral da Criança, e outras entidades assistenciais);
Desafia os cristãos também a preparar uma refeição saudável e nutritiva no Domingo de Páscoa e
convidar uma família carente (desafiante, não?); participar
mais ativamente das discussões sociais de políticas públicas; envolver-se na política com espírito
cristão, não lavando as mãos como Pilatos nem difundindo a ideia errônea de que
política não presta nem é lugar de cristão; tomar
mais conhecimento e envolver-se nas iniciativas públicas (governamentais ou
não) de combate à fome e à pobreza no município onde vive; apoiar e participar de alguma pastoral social em sua paróquia
(...).
Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios (Mt 14,20). Isso nos consola e nos diz que isso é possível. Que o tema da fome, sua reflexão e ações, portanto, envolva toda a Igreja, transbordando também para o todo da sociedade.
Que sejamos, pois, envolvidos por este esforço de evangelização e educação capaz de gerar
convicção e atitudes evangélicas e proféticas em busca da superação do
resistente egoísmo e do fatal individualismo que nos afasta daquele Deus que
encheu de bens os famintos (Lc
1,53), cantado por Maria no seu Magnificat.
Fonte: CNBB, Fraternidade Fome. Campanha da Fraternidade 2023.
Texto Base, Brasília-DF, 2022.
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