sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

 

Erivan Ana Butzhi: a Saúde e o Voluntariado.

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Corria o ano 2003 e lá encontramos uma senhora vibrante e dinâmica às voltas com chás beneficentes, promoções e arrecadações destinadas àqueles que padeciam de uma grave enfermidade que assombrava os brasilandenses, num tempo em que a municipalização da Saúde no interior do Estado ainda engatinhava. 

Tratava-se da senhora Erivan Ana Butzhi que nesta época, ao lado de suas colaboradoras administrava com todo o empenho a entidade Associação de Voluntários de Combate ao Câncer-AVCC, dando continuidade ao trabalho anterior realizado por Darsiza da Silva Santos e sua equipe levando a diante os ideais primeiros de Leonides Rodrigues Lima, fundadora da entidade em 1999. 

Preocupada e dedicando-se de corpo e alma às pessoas que arduamente se comprometiam com o bem-estar das vítimas deste mal, dona Erivan pregava que era preciso aliviar um pouco a dor daqueles que sofrem deste mal (...) sentindo até mesmo a sua dor, dando também um pouco de alegria àqueles que querem ter um pouco mais de vida. 

Sempre muito perspicaz e consciente, não descuidava de sempre animar aqueles que, de índole reta e generosa, sonhavam em mudar o ambiente e o individualismo vivido, tornando nossa comunidade mais humana e fraterna, sonhando e concretizando o desejo de amenizar as dores de quem sofria. 

Mãos zelosas e dedicadas na prática da caridade exercitada em profundidade na igreja da Paróquia Cristo Bom Pastor, onde, por muitos anos, sempre esteve à frente de promoções e eventos, foi o mote e prática necessária que lhe permitiu ser uma verdadeira mulher empreendedora, num tempo onde a iniciativa privada era o grande suporte do incipiente voluntariado comunitário local. 

Foram, sem dúvida, tempos que desafiavam os sonhos. Tempo, onde essa senhora, de maneira altruísta muito se empenhou no processo de estruturação da entidade AVCC. Desde compartilhar angústia pelos pequenos espaços que lhe eram concedidos, até a escassez de recursos que todas as entidades sentiam nesta época. Vivia-se um tempo onde era tímida a participação do Estado e havia pouco envolvimento popular. 

E lá encontramos dona Erivan, radiante de felicidade recebendo das mãos do senhor Benedito, da Fazenda Gerivá, a doação de uma camionete para a entidade. Sim era um tempo em que os voluntários arregaçavam as mangas e revertiam o cenário adverso. Transformavam sonhos em realidade. 

Sempre atenta ao que acontecia ao seu redor e em sua comunidade, ao lado de seus colaboradores Paulo César da Silva, Valdemira Fernandes Lopes, Jorge Justino Diogo, Lúcia Aparecida Carlos Santos, Patrícia Cristiane Romero, entre outros, se fez representar como membro nas reuniões do Conselho Municipal de Saúde, tendo inclusive presidido a Comissão Eleitoral na fundação da ASSOBRAA em 2003. 

Quando deixou a direção da AVCC em 2005 publicou um belíssimo depoimento, testemunho e fruto de sua vivência como mulher voluntária: Conheci pessoas doentes que necessitavam de tratamento em oncologia, e mesmo assim se davam como voluntárias na tentativa de aliviar a dor dos outros. Conheci pessoas que, cheias de bondade e fé, suportaram suas dores e nos ajudaram a também ajudá-las. Conheci pessoas que no auge de sua dor, tinham depoimentos para nos energizar para prosseguir nossa missão (...). Que saudade de tantos que partiram, registrou o Jornal da Cidade na época. 

Pelo trabalho realizado, no ano de 2005, dona Erivan recebeu uma Moção de Congratulações da Câmara Municipal de Brasilândia, proposta pelo então vereador Mehdi Talayeh que lembrou a trajetória de sucesso e conquistas pelo trabalho prestado para a AVCC por esta senhora que já ultrapassou inúmeros obstáculos para levar conforto e prestar um percentual de sua solidariedade aos pacientes que tanto necessitam de voluntários como ela. 

A entidade naquela época seguiu em frente no seu laborioso trabalho pelas mãos de Silvia Neura da Silva, enquanto dona Erivan continuou como voluntária por muitos anos até o peso da idade lhe fazer companhia. Dedicando-se mais à família e aos cuidados com a saúde, seu rosto voltou a sorrir ao receber o abraço de gratidão dos netos e dos amigos. 

Quando dona Erivan partiu para a eternidade no dia 24 de fevereiro de 2014, a lembrança mais marcante que os olhos deste escrevinhador guardou, e todos que lá se encontravam, foi quando ela adentrou em cadeira de rodas, de forma triunfal, elegante e festiva na igreja, de mãos dadas com um de seus afetos, Osni Antônio Butzhi Andrade Neto, que naquele dia celebrava o seu enlace matrimonial. A felicidade estava completa e a missão de dona Erivan Ana Buthzi estava cumprida.

 

Brasilândia/MS, 24 de fevereiro de 2023.

 

Fonte: DUTRA, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS - Volume II – Patrimônio, Página 261 e seguintes.

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