Erivan Ana Butzhi: a Saúde e o
Voluntariado.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Corria o ano
2003 e lá encontramos uma senhora vibrante e dinâmica às voltas com chás
beneficentes, promoções e arrecadações destinadas àqueles que padeciam de uma
grave enfermidade que assombrava os brasilandenses, num tempo em que a
municipalização da Saúde no interior do Estado ainda engatinhava.
Tratava-se
da senhora Erivan Ana Butzhi que nesta época, ao lado de suas
colaboradoras administrava com todo o empenho a entidade Associação de
Voluntários de Combate ao Câncer-AVCC, dando continuidade ao trabalho anterior
realizado por Darsiza da Silva Santos e sua equipe levando a
diante os ideais primeiros de Leonides Rodrigues Lima, fundadora da
entidade em 1999.
Preocupada
e dedicando-se de corpo e alma às pessoas que arduamente se comprometiam
com o bem-estar das vítimas deste mal, dona Erivan pregava que era preciso aliviar um pouco a dor daqueles que sofrem deste mal (...) sentindo
até mesmo a sua dor, dando também um pouco de alegria àqueles que querem ter um
pouco mais de vida.
Sempre
muito perspicaz e consciente, não descuidava de sempre animar aqueles que, de
índole reta e generosa, sonhavam em mudar o ambiente e o individualismo vivido,
tornando nossa comunidade mais humana e fraterna, sonhando e concretizando o
desejo de amenizar as dores de quem sofria.
Mãos
zelosas e dedicadas na prática da caridade exercitada em profundidade na igreja
da Paróquia Cristo Bom Pastor, onde, por muitos anos, sempre esteve à frente de
promoções e eventos, foi o mote e prática necessária que lhe permitiu ser uma
verdadeira mulher empreendedora, num tempo onde a iniciativa privada era o
grande suporte do incipiente voluntariado comunitário local.
Foram,
sem dúvida, tempos que desafiavam os sonhos. Tempo, onde essa senhora, de
maneira altruísta muito se empenhou no processo de estruturação da entidade AVCC.
Desde compartilhar angústia pelos pequenos espaços que lhe eram concedidos, até
a escassez de recursos que todas as entidades sentiam nesta época. Vivia-se um
tempo onde era tímida a participação do Estado e havia pouco envolvimento
popular.
E
lá encontramos dona Erivan, radiante de felicidade
recebendo das mãos do senhor Benedito, da Fazenda Gerivá, a doação
de uma camionete para a entidade. Sim era um tempo em que os
voluntários arregaçavam as mangas e revertiam o cenário adverso.
Transformavam sonhos em realidade.
Sempre
atenta ao que acontecia ao seu redor e em sua comunidade, ao lado de seus
colaboradores Paulo César da Silva, Valdemira Fernandes Lopes,
Jorge Justino Diogo, Lúcia Aparecida Carlos Santos, Patrícia Cristiane Romero,
entre outros, se fez representar como membro nas reuniões do Conselho
Municipal de Saúde, tendo inclusive presidido a Comissão Eleitoral na fundação da
ASSOBRAA em 2003.
Quando
deixou a direção da AVCC em 2005 publicou um belíssimo depoimento, testemunho e fruto
de sua vivência como mulher voluntária: Conheci pessoas doentes que
necessitavam de tratamento em oncologia, e mesmo assim se davam como
voluntárias na tentativa de aliviar a dor dos outros. Conheci pessoas que,
cheias de bondade e fé, suportaram suas dores e nos ajudaram a também
ajudá-las. Conheci pessoas que no auge de sua dor, tinham depoimentos para nos
energizar para prosseguir nossa missão (...). Que saudade de tantos que
partiram, registrou o Jornal da Cidade na época.
Pelo
trabalho realizado, no ano de 2005, dona Erivan recebeu
uma Moção de Congratulações da Câmara Municipal de Brasilândia,
proposta pelo então vereador Mehdi Talayeh que lembrou a
trajetória de sucesso e conquistas pelo trabalho prestado para a AVCC por esta
senhora que já ultrapassou inúmeros obstáculos para levar conforto e
prestar um percentual de sua solidariedade aos pacientes que tanto necessitam
de voluntários como ela.
A
entidade naquela época seguiu em frente no seu laborioso trabalho pelas mãos de Silvia
Neura da Silva, enquanto dona Erivan continuou como
voluntária por muitos anos até o peso da idade lhe fazer companhia.
Dedicando-se mais à família e aos cuidados com a saúde, seu rosto voltou a
sorrir ao receber o abraço de gratidão dos netos e dos amigos.
Quando dona Erivan partiu para a eternidade no dia 24 de fevereiro de 2014, a lembrança mais marcante que os olhos deste escrevinhador guardou, e todos que lá se encontravam, foi quando ela adentrou em cadeira de rodas, de forma triunfal, elegante e festiva na igreja, de mãos dadas com um de seus afetos, Osni Antônio Butzhi Andrade Neto, que naquele dia celebrava o seu enlace matrimonial. A felicidade estava completa e a missão de dona Erivan Ana Buthzi estava cumprida.
Brasilândia/MS, 24 de fevereiro de
2023.
Fonte: DUTRA, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS - Volume II – Patrimônio, Página 261 e seguintes.
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