Dona Balbina e seu artesanato em palha
de milho
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Nada mais justo e motivo de orgulho para este município que sempre se destacou na produção de arranjos artísticos e artesanal de projeção em toda a região da Costa Leste e Estado.
Mas quem é Balbina Ribeiro de Novaes?
Para falar desta pioneira artesã especialista no manuseio criativo com a palha
de milho será preciso retroceder no mínimo, quarenta e quatro anos quando, a partir de 1979, esta
atividade artística começou a dar os seus primeiros passos.
Segundo consta a prática é
antiga e passou a ser mais bem divulgada a partir de um curso de artesanato em
palha de milho realizado no dia 8 de julho daquele ano, no tempo do prefeito Fernando Martins Mendes, realizado em parceria com o CESAC (Centro Social de Assistência e Caridade), entidade
que congregava o trabalho das Irmãs
Missionárias de Jesus Crucificado, de Três Lagoas que desenvolviam na época
notável trabalho assistencial e promoção de cursos de artesanato, bordado e
costura aqui em Brasilândia, onde as pessoas eram estimuladas a desenvolver
atividades de geração de renda para o sustento de suas famílias.
O trabalho tinha também o apoio
do PMO (Project Management Office), que possuía um escritório de projetos coordenado
pelo senhor Norberto, de Três Lagoas,
e que reuniu em Brasilândia, na época, 30 alunos que se habilitaram no
artesanato com palha de milho e outros materiais.
A artesã Balbina Ribeiro de Novaes, conhecida simplesmente por Balbina, estava entre eles e logo se
tornou destaque passando a ser conhecida desde então na Imprensa local e
regional, onde, de lá para cá, tem revelado seu talento por meio do artesanato
que já é referência em Brasilândia e região.
Trata-se de um original trabalho artesanal realizado em palha de milho e outras fibras onde a artesã, pacienciosa, os transforma em produto de utilidade e fino acabamento, tais como bolsas, cestas, porta jornais, entre outros.
A explicação nos é dadas por Jair
Bezerra Xavier, da antiga Secretaria Municipal de Agricultura,
Desenvolvimento Econômico e Turismo-SEMADET, que sempre apoiou
esses projetos ao longo das administrações municipais que se sucederam.
Não tem como não elogiar e
aplaudir o trabalho desta lutadora que, depois de muito trabalhar como servidora
pública na condição de gari, onde
acabou aposentada por invalidez em 2005, deu a volta por cima revelando-se uma artista ímpar de nossa cidade.
De obstinada persistência e salutar vigor humano, soube ao logo do tempo vencer os desafios que a vida impõe a todos, uns mais outros menos. No caso de Balbina, o que se sobressaía, sempre foi a sua criatividade e capacidade de não desanimar.
Quando lhe faltavam recursos e matéria prima para seus trançados em
palha, não se sentia encabulada ou diminuída de ir à Imprensa
reivindicar junto à sociedade local, o seu espaço de artesã, solicitando àqueles
que pudessem ajudá-la -- não por caridade com mantimentos --, mas com o produto, a matéria-prima que a fazia feliz ao vê-la transformada em lindas cestas, balaios, leques de
abano entre outros.
No ano de 2008, Brasilândia
participou da 23ª Festa do Folclore de Três Lagoas. Entre as peças produzidas
por artistas brasilandenses, também estavam as produzidas por crianças
da APAE que surpreenderam ao
apresentar tapetes belíssimos feitos a mão, que chamara a atenção dos
visitantes. Lá também estavam os trabalhos produzidos pela artesã senhora Balbina, popular dona
Bina.
Ela é um grande exemplo desta realidade, pois passa a maioria de seu tempo
produzindo peças em palha de milho, verdadeira obra prima que a ajuda no
sustento da família e na compra de medicamentos dos quais faz uso constante e
que custam muito caro, mas que com muita paciência e esforço, dona Bina vai
produzindo, vendendo e garantindo a sua sobrevivência, escreveu Jair
Bezerra Xavier no jornal da época.
Num trabalho acadêmico realizado pela professora Maria Rita Ferreira de Gusmão
Santini e a jornalista Patrícia
Luciana Acunha no ano de 2004, de levantamento de subsídios para a formação
de uma Associação de Artesões em Brasilândia, as pesquisadoras lembram que Dona Balbina trabalha com artesanato feito com palha de milho desde 1979, com
um trabalho primoroso e que é pouco conhecido na cidade.
Em visita a casa dessa artesã a
professora e a jornalista lembram que anos
antes ela saía para vender seus produtos nas cidades vizinhas, do nosso Estado
de MS e do Estado de São Paulo. Hoje, doente, não viaja mais. Mas ela continua recebendo encomenda de pessoas
de outras cidades, e quando recebe essas encomendas, faz uma peça a mais para
vender aqui.
A exemplo do artesanato produzido pelo povo indígena Ofaié do nosso município, ninguém mais sabe fazer esse seu trabalho que pode desaparecer com ela. Essa senhora aprendeu a tecer com fibra de bananeira, que ela diz não gostar muito de fazer por ser muito trabalhoso; mas vimos uma sacola e um chapéu em sua casa, feitos com esse material.
Dona Balbina, professora e também aprendiz, confessa que também
aprendeu com os netos a fazer crochê, que é um dos artesanatos mais comuns no
município.
.........
Foto: Anúncio publicado no Jornal de Brasilândia, 1993.
A história de Dona Balbina e de dezenas de outros artesãos e artistas de Brasilândia o leitor encontra no Volume 2-Patrimônio da coleção História e Memória de Brasilândia/MS, Campo Grande: Editora Life, 2021, p. 84s.
Cf. também: SANTINI, M.R.F. de G. e ACUNHA,
P.L. Formação da Associação dos Artesãos de Brasilândia. Resgate da cultura e
definição da identidade do artesanato de Brasilândia. TCC do Curso de Formação
Gestão Cultural, Decanato de Extensão, UnB, 14.dez.2004, p. 9.
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