sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

 

Dona Balbina e seu artesanato em palha de milho

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Dona Balbina com seus trabalhos artesanais feitos de palha de milho (Foto: Arquivo Maria Rita Santini/Patrícia Acunha, 2014).

O nome dela está nas redes sociais. Em destaque e com letras garrafais: Balbina Ribeiro Novaes. Ela é a artesã homenageada na 1ª Feira do Artesanato promovida pelo grupo de Mulheres Empreendedoras 21, de Brasilândia com previsão para ocorrer no dia 10 de março na Praça José Pinto Nunes (Praça da Pedra). 

Nada mais justo e motivo de orgulho para este município que sempre se destacou na produção de arranjos artísticos e artesanal de projeção em toda a região da Costa Leste e Estado.

Mas quem é Balbina Ribeiro de Novaes? Para falar desta pioneira artesã especialista no manuseio criativo com a palha de milho será preciso retroceder no mínimo, quarenta e quatro anos quando, a partir de 1979, esta atividade artística começou a dar os seus primeiros passos.

Segundo consta a prática é antiga e passou a ser mais bem divulgada a partir de um curso de artesanato em palha de milho realizado no dia 8 de julho daquele ano, no tempo do prefeito Fernando Martins Mendes, realizado em parceria com o CESAC (Centro Social de Assistência e Caridade), entidade que congregava o trabalho das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, de Três Lagoas que desenvolviam na época notável trabalho assistencial e promoção de cursos de artesanato, bordado e costura aqui em Brasilândia, onde as pessoas eram estimuladas a desenvolver atividades de geração de renda para o sustento de suas famílias.

O trabalho tinha também o apoio do PMO (Project Management Office), que possuía um escritório de projetos coordenado pelo senhor Norberto, de Três Lagoas, e que reuniu em Brasilândia, na época, 30 alunos que se habilitaram no artesanato com palha de milho e outros materiais.  

A artesã Balbina Ribeiro de Novaes, conhecida simplesmente por Balbina, estava entre eles e logo se tornou destaque passando a ser conhecida desde então na Imprensa local e regional, onde, de lá para cá, tem revelado seu talento por meio do artesanato que já é referência em Brasilândia e região.

Trata-se de um original trabalho artesanal realizado em palha de milho e outras fibras onde a artesã, pacienciosa, os transforma em produto de utilidade e fino acabamento, tais como bolsas, cestas, porta jornais, entre outros. 

A explicação nos é dadas por Jair Bezerra Xavier, da antiga Secretaria Municipal de Agricultura, Desenvolvimento Econômico e Turismo-SEMADET, que sempre apoiou esses projetos ao longo das administrações municipais que se sucederam.

Não tem como não elogiar e aplaudir o trabalho desta lutadora que, depois de muito trabalhar como servidora pública na condição de gari, onde acabou aposentada por invalidez em 2005, deu a volta por cima revelando-se uma artista ímpar de nossa cidade.

De obstinada persistência e salutar vigor humano, soube ao logo do tempo vencer os desafios que a vida impõe a todos, uns mais outros menos. No caso de Balbina, o que se sobressaía, sempre foi a sua criatividade e capacidade de não desanimar. 

Quando lhe faltavam recursos e matéria prima para seus trançados em palha, não se sentia encabulada ou diminuída de ir à Imprensa reivindicar junto à sociedade local, o seu espaço de artesã, solicitando àqueles que pudessem ajudá-la -- não por caridade com mantimentos --, mas com o produto, a matéria-prima que a fazia feliz ao vê-la transformada em lindas cestas, balaios, leques de abano entre outros.

No ano de 2008, Brasilândia participou da 23ª Festa do Folclore de Três Lagoas. Entre as peças produzidas por artistas brasilandenses, também estavam as produzidas por crianças da APAE que surpreenderam ao apresentar tapetes belíssimos feitos a mão, que chamara a atenção dos visitantes. Lá também estavam os trabalhos produzidos pela artesã senhora Balbina, popular dona Bina.

Ela é um grande exemplo desta realidade, pois passa a maioria de seu tempo produzindo peças em palha de milho, verdadeira obra prima que a ajuda no sustento da família e na compra de medicamentos dos quais faz uso constante e que custam muito caro, mas que com muita paciência e esforço, dona Bina vai produzindo, vendendo e garantindo a sua sobrevivência, escreveu Jair Bezerra Xavier no jornal da época.

Num trabalho acadêmico realizado pela professora Maria Rita Ferreira de Gusmão Santini e a jornalista Patrícia Luciana Acunha no ano de 2004, de levantamento de subsídios para a formação de uma Associação de Artesões em Brasilândia, as pesquisadoras lembram que Dona Balbina trabalha com artesanato feito com palha de milho desde 1979, com um trabalho primoroso e que é pouco conhecido na cidade.

Em visita a casa dessa artesã a professora e a jornalista lembram que anos antes ela saía para vender seus produtos nas cidades vizinhas, do nosso Estado de MS e do Estado de São Paulo. Hoje, doente, não viaja mais. Mas ela continua recebendo encomenda de pessoas de outras cidades, e quando recebe essas encomendas, faz uma peça a mais para vender aqui.

A exemplo do artesanato produzido pelo povo indígena Ofaié do nosso município, ninguém mais sabe fazer esse seu trabalho que pode desaparecer com ela. Essa senhora aprendeu a tecer com fibra de bananeira, que ela diz não gostar muito de fazer por ser muito trabalhoso; mas vimos uma sacola e um chapéu em sua casa, feitos com esse material

Dona Balbina, professora e também aprendiz, confessa que também aprendeu com os netos a fazer crochê, que é um dos artesanatos mais comuns no município.

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Foto: Anúncio publicado no Jornal de Brasilândia, 1993.


A história de Dona Balbina e de dezenas de outros artesãos e artistas de Brasilândia o leitor encontra no Volume 2-Patrimônio da coleção História e Memória de Brasilândia/MS, Campo Grande: Editora Life, 2021, p. 84s. 

Cf. também: SANTINI, M.R.F. de G. e ACUNHA, P.L. Formação da Associação dos Artesãos de Brasilândia. Resgate da cultura e definição da identidade do artesanato de Brasilândia. TCC do Curso de Formação Gestão Cultural, Decanato de Extensão, UnB, 14.dez.2004, p. 9.




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