Dona Ivone Bertolez e a lembrança daquele dia perfeito

Carlos Alberto dos Santos Dutra

O dia estava perfeito. O sol ainda brilhava naquele final de tarde, de um fim de semana festivo em meados do mês de novembro do ano de 2015.

A família, o sorriso das crianças, o rio e os peixes eram os personagens que davam enlevo àquela paisagem perfeita para a alegria dos que ali se encontravam. E todos transbordavam de felicidade.

Rostos sorridentes ruborizados com o sol e a magia de estar ao lado daquela que por um breve momento parecia ressurgir soberana das águas.

De sua face emanava uma luz que brotava do espelho que cintilava em cascata e a todos contagiava.

Dona Ivone naquele dia era só alegria, pois podia desfrutar ao lado da família aquele momento mágico de paz, descontração e encantamento.

Sim, um momento único em que ela se sentiu amada e encantada.

Seus pensamentos podiam voar livres. Era como se estivesse recordando um tempo, de um rio Verde e Paraná de outrora.

E lá estava ela, quando ainda na barranca, de mãos dadas com o esposo, se viu construindo cada trecho da estrada de poeira e barro, ao longo dos anos, conduzindo seus rebentos, fazendo a vida florescer.

As fotografias que lembram aquela tarde, o brilho e o frescor das imagens, hoje nos levam às lágrimas, pois ainda estão muito vivas na lembrança de cada um dos que lá se encontravam.

Como não suspirar e sorrir, vendo-a segurar um caniço, ainda com um peixinho preso a ele pelo anzol, em meio ao sorriso dos netos?

Sim. Esta era a imagem singela da felicidade e estava ao alcance de todos.

Ah! Se as filhas Sandra, Adriele e Rosemeire, o esposo Celso e os netos pudessem voltar no tempo, lamentam hoje, passados oito anos daqueles momentos felizes. 

E eis que agora essa alegria e felicidade toda nos escapa das mãos entre os dedos...

Adentra o nosso coração com dor e força, como a mareta da água batendo firme no casco de um barco que aos poucos se afasta, ganhando distância dos nossos olhos, braços e abraços...

Imagens que se perdem na distância, no aceno daqueles que a amaram e a tiveram tão perto de si, e que hoje por ela choram...

Lembranças que, talvez, possam confortar, revelando que ela teve uma vida feliz e fez circular ao redor de si o puro sentimento da felicidade.

Mas a dor, tal qual um redemoinho, perdura...

Neste dia, pois, quando dona Ivone, antes de completar 60 anos de idade, e que de súbito nos deixou, cabe somente em Deus confiar.

Que a Virgem Maria a receba com a mesma paz e serenidade que sempre a inspirou e demonstrou a todos com quem conviveu. 

Obrigado pelo seu olhar, pela sua força e pela sua fé. Descanse em paz dona Ivone. 

Brasilândia/MS, 4 de junho de 2023.

Imagem: Facebook