quarta-feira, 14 de junho de 2023

 

Sinal Vermelho para violência contra a mulher

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Existem temas que evitamos falar. Atribuímos a eles conotação de repulsa e desconforto e não damos a atenção que eles merecem. Realidade que na maioria das vezes a localizamos distante e pertencente somente ao submundo das classes sociais menos abastadas. Um terrível engano: ela está muito mais perto do que imaginamos.

Um desses temas é o da violência contra a mulher. E com a capilaridade das redes sociais que hoje adentra escritórios, camarins e alcovas, e revelam a face mais íntima e visceral das relações da sociedade conjugal, ele está cada vez mais visivel.

Foi-se o tempo em que este tema e a denúncia de maus tratos e violência doméstica contra a mulher só era possível ser ouvido no confessionário religiosos ou no divã do psiquiatra. Raras vezes fatos relacionados aos abusos e agressões chegavam até o destacamento policial mais próximo motivado pela vítima.

No mais das vezes, a denúncia era de terceiros, ou da própria força pública, mediante improvável flagrante. Uma rápida olhada nas páginas de registro de inquéritos policiais da urbe, e não nos surpreenderemos com o fato de que estes acontecimentos eram mais frequentes do que esperávamos.

No Mato Grosso do Sul, desde o tempo em que ele ainda era uno, a violência campeava. A história faz registro disso contra índios, negros, posseiros e trabalhadores braçais. Porém, não se engane, a violência também alcançava as mulheres, e em todas as classes sociais. 

Não nos surpreende verificar também por aqui o nome de ilustres famílias, nos idos anos 1980, cujos nomes se encontravam associados a inquéritos policiais motivados por denúncia de sedução, ameaça, lesões corporais, defloramento, rapto de moça menor, entre outros.

O grito sufocado das mulheres, hoje ganha espaço e visibilidade não somente através das mídias sociais. É o que clama a recente Lei nº. 3.018/2023, sancionada no dia dos namorados, 12 de junho de 2023, pelo prefeito de Brasilândia, Dr. Antônio de Pádua Thiago.

Ela tem o objetivo de dar maior cor ao gesto de denúncia da violência praticada contra a mulher. Essa é a intenção da Campanha Sinal Vermelho proposta pela vereadora Márcia Regina do Amaral Schio, autora do projeto de lei.

Apresentada como um mecanismo de combate e prevenção a violência doméstica e familiar contra as mulheres, a lei publicada no Diário Oficial nº 3360, da Assomasul, tem o objetivo de auxiliar mulheres em situação de violência doméstica ou familiar, facilitando-lhes o pedido de socorro, nos termos da Lei Federal nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (“Lei Maria da Penha”).

O ritual proposto permite às mulheres sinalizar e expor a mão aberta de forma clara com um X, feito com batom da cor vermelho de preferência, ou utilizar qualquer outro material acessível a elas, como caneta, entre outros ou verbalizar, caso haja a possibilidade o código “Sinal Vermelho”, se comunicando e pedindo socorro de forma clara.

O protocolo básico e mínimo, consiste em que, ao identificar o pedido de socorro e a solicitação de ajuda das mulheres (...), os funcionários ou atendentes de instituições públicas e privados ou proprietários de comércios, de atendimento ao público, deverá proceder com o protocolo básico do programa que consiste em coletar informações da vítima, como: nome, endereço, telefone, e se não for possível coletar os dados, que se preste atenção ao maior número de detalhes e ligue imediatamente para o número 190 (Emergência – Polícia Militar), tel. 3546-1294, Delegacia Policia Civil ou qualquer outro órgão similar do Município de defesa e combate à violência contra as mulheres.

A Lei prevê ainda que, sempre que possível, a vítima pode ser conduzida, de forma sigilosa e com discrição, a local reservado no estabelecimento para aguardar a chegada de pessoa autorizada e caracterizada pelo órgão de segurança pública ou similar. E ainda que, a pessoa responsável, pelo auxilio prestado a vítima, não será identificado no boletim de ocorrência da polícia civil e militar, salvo se testemunha de delito autônomo, praticado nas dependências do local.

Sem dúvida, é uma das primeiras iniciativas a cargo da Secretaria Municipal da Mulher Brasilandense que dignifica e amplia sua área de atuação, originalmente voltada para o empreendedorismo, e que agora agrega valor, juntamente com outros órgãos similares e poder público, promovendo também a defesa da integridade física da mulher brasilandense.

Que a campanha Sinal Vermelho sirva de alerta também para os homens que se valem da violência contra suas esposas, namoradas, parceiras e parceiros, para a demonstração de força. Que a testosterona exacerbada que lhe chega ao cérebro, embotando-lhe o discernimento, não os transforme em bestas-feras, cujo destino certo é a reclusão em jaulas.

Brasilândia/MS, 14 de junho de 2023.

Fonte: https://diariooficialms.com.br/media/86833/3360---14-06-2023.pdf

Foto: https://www.lagoavoluntario.com.br/novidades/59-sinal-vermelho-contra-viol%C3%AAncia-dom%C3%A9stica.html

 

 

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