Por onde
anda o brilho da Tribuna?
Carlos
Alberto dos Santos Dutra
Houve um
tempo em que a Câmara Municipal de Brasilândia era o palco dos acontecimentos e caixa de ressonância da política da urbe. Quando a sede do Legislativo se encontrava no
centro da cidade, o início da Alameda Arthur Höffig, seu frontispício era um calçadão movimentado.
As sessões
eram a noite e delas participar era programa obrigatório e um fiel compromisso
para as mentes mais esclarecidas locais. Só perdia para os dias de jogos de
campeonato e as novelas globais, que roubavam as atenções da população em
geral.
A
alternativa nestes casos, sobretudo para os homens, era participar das sessões
para se colocar a par dos acontecimentos políticos da Prefeitura, sempre vista
com olhos críticos pela coletividade brasilandense.
Sim,
vivia-se num tempo ainda distante das atuais redes sociais, celulares e seus
aplicativos que transmitem em tempo real eventos e atividades sociais e
políticas ao alcance de qualquer cidadão. Um tempo em que as notícias locais
chegavam somente através das páginas dos periódicos semanais – Jornal de
Brasilândia, Jornal Dia a Dia, Jornal da Cidade, Jornal Independente, que
circulavam na cidade, via de regra, com as cores e releases paridos pelas administrações
municipais que os patrocinavam.
A
alternativa oferecida ao cidadão no campo da política, sem dúvida, era adentrar
a porta angular do Legislativo e se abancar numa poltrona acolchoada do ambiente para ver e ouvir o que seus
representantes iriam falar naquele dia.
Diante de
uma composição, na maior parte das vezes, simétrica, cujos braços da balança
sempre se mantinham em equilíbrio, seja nos debates, seja nas proposições, os
olhos e ouvidos do cidadão podiam, assim, inteirar-se sobre as decisões e a
aplicação do erário pelo alcaide.
E o que era
mais impressionante: naquele tempo primava-se pelo poder da palavra, que era lida
e proclamada na tribuna. Ao ler em voz alta as indicações e projetos, o
cidadão, mesmo o menos letrado, a ele era oportunizado ouvir o que os
administradores estavam fazendo ou propondo.
Depois, um
dos momentos mais esperados, era quando o vereador ocupava a tribuna. Ali, o
cidadão podia perceber e melhor conhecer o seu representante. Ao fazer uso da
tribuna o edil podia dizer, de viva voz, a que veio, por que motivo estava ali
- se a favor ou contra o povo -, causando orgulho ou tristeza a seus eleitores.
E tudo começava com a leitura da Ata da sessão anterior. Naquele momento ao cidadão era permitido ter
uma noção do trâmite legislativo e os passos para se chegar até a aprovação de
uma lei, ou até mesmo acompanhar o posicionamento dos colegas vereadores que,
no andar da carruagem, às vezes mudavam de posição em relação às proposições
apresentada por seus pares.
Sim, foi um
tempo, infelizmente, que não volta mais. Em razão do advento das tecnologias,
hoje muitos justificam a necessidade da supressão de muitos passos no ritual
legislativo, enxugando-o. Porém, mais do que a informação que circulava nos escaninhos, hoje ao alcance de privilegiados
que podem acessar a pauta das sessões da Câmara através de um site, nem sempre muito bem
divulgado, advoga-se em seu favor que vivia-se naquele tempo um ambiente
pedagógico inspirador de cidadania.
Muitos daqueles
ouvintes, devido à proximidade com o tema, passado algum tempo, vieram a compor aquele seleto quadro de
representantes da municipalidade, pois ali foram inspirados. Escola que os permitiu observar, por um lado, o
brilho e o vigor de uns, e, não raro, por outro lado, a mediocridade e pequenez de outros.
Hoje, o
cidadão é surpreendido pela informação de que nas sessões da Câmara não mais se lê a Ata da sessão anterior e tampouco o teor da pauta das Proposições do dia. Perde a viagem
o cidadão que não teve acesso prévio do teor daquilo que estaria sendo
discutido e aprovado. Perde a democracia uma escola cuja prática distancia cada vez mais o cidadão da res publica e a defesa de sua incolumidade.
Para o consolo do cidadão, resta torcer para que seu representante TBC, e ocupe a tribuna e fale, para poder ouvi-lo
através da mídia social em sua casa. E, assim, poder acompanhá-lo em eventual debate que se aventure a empreender.
Foto: Arquivo Prof. José Cândido da Silva, 1991.
TBC="Tire a Bunda da Cadeira" é uma expressão motivacional utilizada pelos coaching em eventos dirigidos a profissionais liberais e empreendedores criando a convicção de que "sem ação não há realização".
Brasilândia/MS,
12 de junho de 2023.
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