Ofaié: na memória de Nova Andradina para sempre
Carlos Alberto dos Santos
Dutra
O que faz um professor
empenhar-se tanto na preservação da história? O que faz um pesquisador
dedicar-se na busca das origens e marcas de um povo nesta mesma história?
Que chama os encandece ao
deitar os olhos sobre as luzes e sombras do trajeto de um povo no tempo e no
espaço? Que obstinação? Que causa perdida os impulsiona a se lançar por inteiro
pela trilha do querer e de um saber que a maioria se nega a pisar?
São estas e outras perguntas
que poderiam ser feitas ao professor e ao pesquisador diante de um
acontecimento tão grandioso ao contemplar este Monumento e Placa Ofaié na Praça
Brasil e o Espaço Ofaié no Museu Histórico e Cultural Antônio Joaquim de Moura Andrade,
na cidade de Nova Andradina/MS inaugurados hoje.
A resposta simples, sintetizando
tudo o que vai no coração de cada um dos historiadores, talvez, possa ser dada, não
pelos doutos senhores da cátedra, mas por aqueles que sempre estiveram no centro da história, ao meu e ao seu
lado.
E eis que a voz surge por
lábios e garganta há tanto tempo calados; brota de olhares cabisbaixos e arredios encurralados
pelos matos; visíveis por mãos e braços que acenam gestos AGANÍE de silenciosa
resistência; revivem pernas e pés rápidos pelas trilhas do abandono fugindo das dadas
com a proteção de AGAXOW...
--Esperamos todo este tempo
para voltar aqui. E agora cá estamos para dizer que já estivemos aqui, vivemos
aqui, morremos aqui. Mas ainda estamos vivos.
--A memória hoje celebrada, nossos
velhos não mais estão aqui para dançar de felicidade ao redor do cocho de kauim em guachiré de outrora;
--A memória hoje celebrada,
sim, enche os olhos de nossas crianças de alegria e esperança, porque sentiram-se acolhidas e viram o
esforço realizado.
--Mesmo sem entender
direito, nós também, festejamos a homenagem que nos é conferida, e o nosso coração bate forte, pois estes símbolos demonstram que o tempo do respeito e do reconhecimento à alteridade também aqui
chegou. Mas não em todo o lugar.
--Por isso seguimos lutando...
É esse vigor que brota dos
protagonistas da história vinda de baixo, que renasce da seiva que alimenta a
terra, que pereniza os sonhos e os ideais de justiça, que embala o empenho pelo
saber perseguidos pelos professores.
Reconforta a alma saber que a memória e o Saber Indígena pode ser dividido, partilhado e democratizado, revolucionando
as estruturas de poder, colocando o dedo na ferida em busca de sua
cicatrização.
Parabéns povo Ofaié. Parabéns
professor Eduardo Martins. Parabéns UFMS. Parabéns Nova Andradina.
De Brasilândia para Nova Andradina,
24 de setembro de 2024.
Nenhum comentário:
Postar um comentário