terça-feira, 24 de setembro de 2024

 

Ofaié: na memória de Nova Andradina para sempre

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 

O que faz um professor empenhar-se tanto na preservação da história? O que faz um pesquisador dedicar-se na busca das origens e marcas de um povo nesta mesma história?

Que chama os encandece ao deitar os olhos sobre as luzes e sombras do trajeto de um povo no tempo e no espaço? Que obstinação? Que causa perdida os impulsiona a se lançar por inteiro pela trilha do querer e de um saber que a maioria se nega a pisar?

São estas e outras perguntas que poderiam ser feitas ao professor e ao pesquisador diante de um acontecimento tão grandioso ao contemplar este Monumento e Placa Ofaié na Praça Brasil e o Espaço Ofaié no Museu Histórico e Cultural Antônio Joaquim de Moura Andrade, na cidade de Nova Andradina/MS inaugurados hoje.

A resposta simples, sintetizando tudo o que vai no coração de cada um dos historiadores, talvez, possa ser dada, não pelos doutos senhores da cátedra, mas por aqueles que sempre estiveram no centro da história, ao meu e ao seu lado.

E eis que a voz surge por lábios e garganta há tanto tempo calados; brota de olhares cabisbaixos e arredios encurralados pelos matos; visíveis por mãos e braços que acenam gestos AGANÍE de silenciosa resistência; revivem pernas e pés rápidos pelas trilhas do abandono fugindo das dadas com a proteção de AGAXOW...

--Esperamos todo este tempo para voltar aqui. E agora cá estamos para dizer que já estivemos aqui, vivemos aqui, morremos aqui. Mas ainda estamos vivos.

--A memória hoje celebrada, nossos velhos não mais estão aqui para dançar de felicidade ao redor do cocho de kauim em guachiré de outrora;

--A memória hoje celebrada, sim, enche os olhos de nossas crianças de alegria e esperança, porque sentiram-se acolhidas e viram o esforço realizado.

--Mesmo sem entender direito, nós também, festejamos a homenagem que nos é conferida, e o nosso coração bate forte, pois estes símbolos demonstram que o tempo do respeito e do reconhecimento à alteridade também aqui chegou. Mas não em todo o lugar.

--Por isso seguimos lutando...

É esse vigor que brota dos protagonistas da história vinda de baixo, que renasce da seiva que alimenta a terra, que pereniza os sonhos e os ideais de justiça, que embala o empenho pelo saber perseguidos pelos professores.

Reconforta a alma saber que a memória e o Saber Indígena pode ser dividido, partilhado e democratizado, revolucionando as estruturas de poder, colocando o dedo na ferida em busca de sua cicatrização.

Parabéns povo Ofaié. Parabéns professor Eduardo Martins. Parabéns UFMS. Parabéns Nova Andradina.   


De Brasilândia para Nova Andradina, 24 de setembro de 2024.



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