sexta-feira, 20 de setembro de 2024

 

Salve o 20 de Setembro, Dia do Gaúcho!

Carlos Alberto dos Santos Dutra


No dia dedicado ao gaúcho, relembro uma passagem deste escrevinhador pela Câmara Municipal de Brasilândia, no dia 19 de setembro de 2005, onde o então neófito vereador Carlito fazendo uso da tribuna no momento das Explicações Pessoais, assim se dirigiu:

"Senhor Presidente. Ocupo esse espaço para falar lá do Rio Grande, meu estado natal, que nessa semana comemora o chamado 20 de setembro, tido como a data de fundação política e administrativa do estado gaúcho.

Saibam os senhores que o Rio Grande do Sul foi o único estado do Brasil que não fez parte dos domínios coloniais de Portugal. Pertenceu a Espanha até 150 anos depois da chamada “descoberta” pelos portugueses.

Foi somente em 1737, que a capitania São Pedro do Rio Grande foi criada. Mas foi o marco da Revolução Farroupilha, que durou 10 anos em 1835, e definiu as cores da bandeira e o contorno geográfico das terras dos antigos habitantes gáuches.

Hoje, vivendo nessa cidade de Brasilândia que honrosamente me adotou, depois de 19 anos, pois aqui cheguei no dia 2 de fevereiro de 1986, sabe, Senhor Presidente, já perdi até o sotaque de gaúcho praticado lá no sul. Perdi o jeito de falar, em especial a charla galponeira lá da pampa que faz divisa, prás bandas do Cacequi, fronteira Oeste com a Argentina e Uruguai.

E nestes dias, lá no sul, há todo o revigoramento da cultura e sentimento telúrico, de volta às raízes. Com gineteadas e bombachas, trovas e fandangos, e o chimarrão macanudo sorvendo de mão em mão, orgulho da nossa tradição. 

E nessa hora, até mesmo a gente que vive distante, fica com saudade e começa a relembrar o passado. E começa a reeducar a língua e o sotaque, que aos poucos vai voltando, se lembrando do guri, o piazito de campanha que fomos ontem e o velho táta que vamos nos transformando com o branquear do velo, do velho capão que insiste em ser borrego. 

Ah! Senhor Presidente e dignos vereadores dessa Casa. Perdoe a minha xucra linguagem. Povo de Brasilândia que nos ouve pelas ondas do rádio e neste Tribuna, peço licença prá enveredar em cancha reta no rumo do sentimento e do coração. 

Com permisso paisano, peço para proferir uma oração muito conhecida no Rio Grande, como uma homenagem a essa cultura gaúcha, também presente aqui em Brasilândia. Mesmo que contem piadas maldosas sobre o gaúcho. Tem muita gente que cultiva os valores do sul a nossa volta, mesmo por aqui.

A homenagem que faço, portanto, é a Oração do Pai Nosso numa versão bem xirua, gaudéria, redigida por um cuéra que vivia lá pelos fundões do rincão de sua pátria gaúcha. A oração chama-se Prece do Gaúcho e diz mais ou menos assim: 

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e com licença Patrão Celestial. Vou chegando, enquanto cevo o amargo das minhas confidências, porque ao romper da madrugada e ao descambar do sol, preciso camperear por estas invernadas e repontear do Céu a força e a coragem para o entrevero do dia que passa. 

Eu bem sei que qualquer guasca bem pilchado, de faca rebenque e esporas, não se afirma nos arreios da vida, se não se estriba na proteção do céu. Ouve Patrão Celestial, a oração que te faço. Tomara que todo mundo seja como irmão. Ajuda-me a perdoar as afrontas e não fazer aos outros o que não quero para mim. 

Perdoa-me Senhor, porque rengueando pelas canhadas da fraqueza humana, de quando em vez, quase sem querer, eu me solto porteira afora... Eta potrilho chucro, renegado e caborteiro. Mas eu te garanto, Meu Deus, quero ser bom e direito. 

Ajuda-me Virgem Maria, primeira prenda do céu. Socorre-me São Pedro, capataz da Estância Gaúcha. Pra fim de conversa, vou te dizer, meu Deus, mas somente pra ti: que tua vontade leve a minha de cabresto, pra todo o sempre até a querência do Céu. Amém”. Obrigado, Senhor Presidente.

Brasilândia/MS, 20 de setembro de 2005, Sessão da Câmara Municipal. Publicado no cadernos de Educação Popular do Mandato Popular do Vereador Carlito, 1º vereador eleito pelo PT em Brasilândia/MS.

A "Prece do Gaúcho" é de autoria de Dom Luiz Felipe de Nadal. 

O vídeo é de 1996, Comício Sem Medo de Ser Feliz, onde o então candidato solitário ao pleito naquele ano declamou "Morte do Brigadiano", de Dimas Costa, ao lado de outras manifestações populares numa noite memorável.  

Um comentário:

  1. Como não se emocionar diante dessas lembranças??
    Que nao morra jamais nesse gaúcho que mesmo distante tem grande apego às tradições da nossa terra.
    Carlito tem seu coracao em Brasilandia mas sua alma é cacequiense
    Grande abraço ,querido mano

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