A cidadã, a 2ª dose da Coronavac e a esperança.
Carlos
Alberto dos Santos Dutra.
A festejada vacina do Instituto Butantan contra a Covid-19 semeou esperança aos brasileiros de norte a sul. A produção nacional de uma vacina, a partir do ingrediente farmacêutico ativo-IFA e insumos vindos da China, entretanto, tornou-se a maior dor de cabeça para os governantes e a população que acabou ficando sem a segunda dose do imunizante.
Diferente da vacina produzida pelo laboratório da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz, a partir da tecnologia da Astrazênica, da universidade de Oxford, que obteve o apoio institucional do Ministério da Saúde e Presidência da República, a vacina da Coronavac, produzida pelo laboratório Butantan, ao contrário, acabou sendo preterida por razões políticas.
Fruto de uma severa e desmedida propaganda antivacina de fundo ideológico contrária ao país produtor dos insumos necessários à fabricação do imunizante no Brasil, a China passou a ser alvo de uma bateria de críticas orquestradas pelo presidente Bolsonaro, seus filhos e ministros mais próximos.
O resultado foi o fechamento das portas do maior parceiro comercial e fornecedor da maior parte dos insumos de saúde para o Brasil. E desencadeou um imbróglio diplomático e dificuldades na importação do IFA para a produção de vacinas pelo Butantan. A ponto da produção de vacina, após a entrega do segundo lote ao Programa Nacional de Imunização, entrar em colapso e paralisar.
Como se não bastasse a recusa, pelo Brasil, ainda no ano passado, de vacinas ofertadas pela norte-americana Pfizer, durante meses teve-se de ouvir impropérios lançados ao vento pelo chefe da Nação defendendo o tratamento precoce com fármacos sem reconhecimento científico para o combate à Covid-19, incentivando a aglomeração e o não uso de máscaras, dando o pior exemplo possível em público, o que mereceu reprovação de todos, inclusive internacional.
Os efeitos dessa crise logística e de irresponsabilidade estatal para com a saúde pública, com certeza, haveria de gerar sequelas deletérias, sobretudo à população que ficou privada da 2ª dose da vacinação contra a Covid-19 administrada pelos postos de saúde Brasil afora.
O município de Brasilândia não seria exceção. A despeito dos setores produtivos da sociedade local terem patrocinado no frontispício da cidade outdoor manifestando incondicional apoio a Bolsonaro, os efeitos de sua política são nefastos e não contenta a todos, trazendo prejuízo a muitos.
A cidadã que tomou a 1ª dose da vacina da Butantan é uma delas. Na verdade, ficou a ver navios por culpa do desvario do Presidente. Há 45 dias ela recebeu a 1ª dose da vacina Coronavac; deveria ter recebido a 2ª dose no máximo em 28 dias. Passados 17 dias da data limite e a dose de reforço ainda não havia atracado no porto da Cidade Esperança.
As diferentes orientações e desencontros do Ministério da Saúde respingaram pesados sobre os Estados e Municípios. Quando o ex-ministro da saúde, o general Eduardo Pazuello recomendou ainda em fevereiro deste ano, que os gestores utilizassem todo o quantitativo de doses na vacinação do povo, a porteira foi aberta. E a boiada insana passou.
Ministros, secretários e chefes dos Executivos estaduais e municipais, em nenhum momento tiveram o tirocínio de antever a tragédia anunciada desde o início da pandemia pautada no destempero da conduta e desatino do Presidente e sua trupe.
Dias depois, a orientação do Ministério mudou: Estados e Municípios deveriam reservar estoque da Coronavac para garantir a segunda dose. Agora, sob a gestão do ministro Marcelo Queiroga, a recomendação é de que seja feita a reserva, tendo em vista os atrasos no fornecimento de insumos imunizantes.
Atrasos que se tornaram frequentes a ponto de, só em Campo Grande, ter-se mais de 40 mil pessoas a espera da 2º dose da Coronavac. O que faz a cidadã que recebeu somente a 1ª dose, no dia 3 de abril e desde então espera, se perguntar: E agora, ¿Que hacer?
Dias atrás, o Instituto Butantan em nota pública deu uma resposta à pergunta da cidadã sobre a validade da solitária dose que recebera: É improvável que intervalos aumentados entre as doses das vacinas ocasionem a redução na eficácia do esquema vacinação, noticiaram.
Explicação que foi corroborada pelas palavras do diretor do Butantan, o médico Dimas Covas: mesmo que a pessoa tome a segunda dose 14 dias, 20 dias ou um mês após a data prevista, não há interferência no esquema vacinal.
A réstia de alegria da cidadã, entretanto, não sobrevive a minutos. Apesar da explicação do Governo, especialistas informam: receber a segunda dose fora do prazo não é ideal. E confessam que ainda não tinham uma resposta concreta sobre as consequências de não se receber a 2ª dose da Coronavac após duas semanas da data prevista.
Em face do desalento e angústia, o sentimento que lhe vem à mente e que a impulsiona fazer frente ao drama social e sanitário vivido -- ao lado de muitos brasileiros em igual situação a sua --, é agarrar-se ao mastro da Fé em Deus confiante que o Senhor da História proverá.
Enquanto isso a cidadã, com seu grito, segue desafiando o vento, sem deixar de acreditar no barco esperança chamado Brasil, e com ele fazer todo o esforço para não deixá-lo soçobrar.
Fonte: https://saude.ig.com.br/2021-05-02/segunda-dose-coronavac.html, acesso em 17.Mai.2021;
Foto: Agência Globo, 02.Mai.2021.
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