sexta-feira, 7 de maio de 2021

 

Dona Odila e seu pedacinho de tijolo no Céu.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

 







Ó minha amada dona Odila. Depois de uma longa caminhada, eis que partes, assim de mansinho, quase imperceptível, à semelhança dos passos miúdos que empreendestes pelas ruas de nossa cidade, pelos lares e o altar do Senhor.

Não como um andarilho, sem causa, perdido ao sabor do vento, como tantos que cruzam as estradas. Seus passos suaves, porém firmes e decididos levavam no peito uma causa por demais nobre que a sustentava na fé.

Sim dona Odila era uma mulher de fé. Acreditava no imaginável e incompreensível para muitos. De casa em casa, sempre com um sorriso no rosto, angariava fundos para a Canção Nova manter seu canal de TV. Poucos trocados, às vezes moedinhas, já a tornavam feliz em poder ajudar aquele órgão de difusão da Renovação Carismática.

E lá ia ela, consciente do seu compromisso, no cumprimento do mandamento: fazia sua evangelização conclamando de forma silenciosa, a conversão e a caridade daqueles com que dialogava. Apenas com o olhar, aqueles olhinhos pequenos tocava-lhes o coração.

Ah. dona Odila. Muitas histórias podem ser contadas lembrando o quão importante foste, caridosa que eras. Sempre doce e afetuosa não sabia esconder seu sentimento quando o espírito lhe arrebatava e a alegria lhe tomava a alma, transbordando essa emoção aos que se encontravam a sua volta.

Sempre muito discreta, lá estava ela na fileira da esquerda dos bancos da matriz ao lado do esposo, seu Nelson, ambos com um sorriso nos lábios, atentos, acompanhando a celebração e as palavras do celebrante como se fossem exclusivamente para eles.

Ah. E os encontros do círculo bíblico no bairro Thomaz de Almeida quando ela ainda lá morava. Sempre presente e comunicativa, fazia coro de anjos sertanejos nas nossas cantorias com o gaiteiro, seu esposo, que abrilhantava sempre aquelas reuniões de fé e congraçamento. Quanta saudade.

Anos depois, no assentamento Esperança, envolvida com a lida do campo, impossível não sair de sua casa, com algum alimento cuidadosamente por ela preparado e que sempre fazia questão que o visitante levasse. Mulher virtuosa e hospitalidade assim são avis rara.

A idade, os filhos, as fotos: quase impossível conciliar a juventude que ela representava; a tristeza que os rebentos hoje padecem, e as fotos suas que são tão escassas nas redes sociais. É como se ela vivesse etérea em espírito e o rastro que deixou marcou indelével a vida de quem a teve ligado somente por um véu celeste.

Foi uma alma pura que soube suportar os revezes da condição humana revolucionando a dor, dedicando-se a fé, buscando renovar a vida e fomentar a certeza naquilo que acreditava: a construção do Reino sendo edificado por cada pedacinho de tijolo que ela, mesmo sem saber, lá no céu depositou.

Descanse em paz, amada dona Odila. Que os anjos(da canção que ela tanto gostava) permaneçam por aqui e acolá no Céu acolhendo-a com a mesma alegria que aqui ela semeou. Amém.

Brasilândia/MS, 7 de maio de 2021.

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