sábado, 8 de outubro de 2022

 A barranca e a saudade, na poesia de João Brito de Souza.

Carlos Alberto dos Santos Dutra

João Brito de Souza é um jovem egresso das lutas do povo sofredor da barranca do rio Paraná. Músico, poeta e militante das causas sociais e trabalhistas é líder comunitário e no ano de 2015 era o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia. Também foi um dos fundadores do Fórum dos Usuários do Sus-FUSUS e da Associação da Mão de Obra Atingida e Moradores Excluídos da Barranca dos Rios Verde e Paraná, entre outras.

Sua poesia ainda hoje reflete suas lutas e seus ideais com um forte sentimento de pertença e respeito a terra em que tem dedicado boa parte de sua vida. Sobre suas poesias e melodias pouco espaço lhe é dado para alcançar círculo maior que uma roda de amigos. Poucas vezes pegou no violão e cantou em público, embora já tenha feito isso em eventos alternativos e não governamentais.

Receber homenagem em vida é uma dádiva reservada a poucos que alcançam esta gentileza. Ainda que em pleno vigor de suas potencialidade intelectuais e físicas, ele se nos apresenta um filete de sua bela produção artística que tomo a liberdade de tirá-la do anonimato e publicá-la no Volume II-Patrimônio, da coleção História e Memória de Brasilândia/MS.

O poema que reproduzo abaixo é um dos que se encontram na citados obra. Chama-se Meio século de Distância e foi redigida em 2014, por João Brito de Souza, cidadão brilhante que conheci ainda na barranca do rio Paraná e em meio as suas andanças pela poeira da estrada e os primeiros acampamentos de lona preta na encruzilhada do Assentamento Santana, Santa Emília e Pedra Bonita, a mais de 30 anos atrás.

Nela o agricultor orgânico e artista, que hoje aniversaria, nos fala de sua inspiração ambiental, de seu engajamento político e o resgate histórico de um tempo que marcou a vida de muitos brasilandenses. E que, através da escrita, inscreve na memória as lembrança daqueles que viveram e seus corações ainda miram as margens do rio Paraná...


PARA OUVIR A POESIA

Pelas curvas da estrada
Sempre existe algum abrigo...

Uma sombra, um olho d’água
Um abraço, um ombro amigo.

Um sorriso, uma palavra
Uma luz lá na distância,

Uma fé inabalável
Dessa cidade esperança...


Capela da gleba seca
As restingas do varjão...

A pesca da piapara
No famoso canaletão.

Aldeia da Cisalpina
Ofaié, povo do mel

Irmãos de sangue guerreiros
Humildes e hospitaleiros

São estrelas em nosso céu.

Da velha estrada do porto
Do iate e Shangrilá

Dos tijolos feitos a mão
Da balsa do Paraná

Lá do Porto João André
Saudoso amigo Chicão

Rude, matuto, polêmico
Humilde de coração...


Quem me dera fosse hoje
Meio século de distância

Duma ponte de madeira
Dum rio Verde tão pujante

Aguapés e jaçanãs
Fauna e flora exuberantes

Dos tuiuiús majestosos
Das arapongas gritantes.


Pelos cantos do caminho
Vão formando outros cordões

Norte, Sul, Leste, Oeste
Esplendor destes rincões

Brazil Land, Arthur Höffig
José Marques, Julião

Que botaram a mão na massa
Cobrindo de orgulho e raça

O nosso humilde torrão...

A história continua
Uma página cada dia

Lutas justas, sonhos utópicos
De desejos e fantasias

Novos atores que semeiam
Esperança, paz e glória

Os que foram e que virão
Estarão no coração

Também em nossa memória.

Brasilândia/MS, 08 de outubro de 2022.
Voz: Prof. Carlito Dutra.



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