Dona Fidelcina de Souza Brito, os
sonhos, a família e a terra.
Carlos
Alberto dos Santos Dutra
Falar sobre pessoas é sempre um
desafio, sobretudo no momento da despedida. O coração embarga e as palavras
faltam. Principalmente quando a perda é de um amigo. No desejo de lhe
prestarmos solidariedade naquele momento de dor, inevitavelmente nos vem à
mente o desejo de exaltar a memória daquele que parte. Ainda mais quando se
trata do bem mais precioso que carregamos no peito, para toda a vida: a nossa
mãe.
E lá a encontramos, ainda em sua juventude ao lado do esposo, rodeada dos
filhos, olhando o futuro naqueles tempos primeiros, há cinquenta anos atrás.
Assim foi com dona Fidelcina de Souza Brito. Desde quando nasceu no dia
4 de março de 1929 seus sonhos sempre os teve, e nunca lhe intimidou a vida
simples da roça; atravessou infância e juventude sempre com força e coragem.
Depois de moça, casada com Antônio Benedito de Souza, construiu e
manteve o leme da casa com sabedoria e segurança, educando os cinco filhos que
Deus lhe deu: Jandira, Benedito, José, Antônio Aparecido e Irineu.
Ao lado do esposo aportou por Brasilândia no dia 21 de setembro de 1969, quando
a cidade ainda era uma criança, tinha apenas quatro anos de emancipação
político-administrativa, lembra o filho Irineu de Souza Brito.
Antes de aqui chegar, vindo do Estado da Bahia, a família passou por Erculândia
até Ouro Verde como trabalhadora rural, derrubando mata e formando plantações
de café para fazendeiros da região. Com o passar dos anos, conseguiram tocar
sua própria plantação de café em regime de porcentagem com os cafeicultores da
alta paulista, recorda com orgulho o filho Irineu.
E foi ali, no Sitio São Benedito, que uma das famílias mais antigas da Brasilândia
que emergia instalou-se permanecendo até os dias atuais. Dona Fidelcina,
de voz firme e comedida, espalma a mão de lavradora sobre os olhos e mira longe
a poeira do estradão da antiga estrada do porto, hoje praticamente zona
urbana no município de Brasilândia.
Ah, como o tempo voa.
Na lembrança saudosa do filho Irineu, a memória ainda está lá rodopiando
nos pensamentos. Quando a família aqui chegou vinda de São João do Pau D’Álho
era ano eleitoral: Era 1969 e a cidade realizava um comínio do então
candidato a prefeito Julião de Lima Maia. Chegando ao bairro Pipoca, em
frente ao bairro Cabeceira Perdida, ali tinha um time de futebol dirigido pelo
saudoso José Rodrigues, e onde os filhos da dona Fidelcina foram se
enturmando e onde o Zé Brito mostrou mais habilidade com a bola do que o
caçula Irineu, sorri o irmão ao contar.
O esposo de dona Fidelcina faleceu em 27 de janeiro de 1988 quando os
filhos já estavam criados e realizados. E que logo cercaram a mamãe viúva de
flores, netos, genros e noras, sobrinhos e amigos, tornando sua vida mais leve
e feliz, depois da dura luta pela sobrevivência comum àqueles que vivem da
terra.
Os anos passaram e a idade chegou e, junto dela, os abalos à saúde. Mas
manteve-se firme, sempre lúcida e olhar aguçado, tal qual um angico de firme
cerne, esteio da casa, sempre conselheira, norte de fé, apontando o rumo e a
experiência dos mais antigos: era capaz de dar a vida se preciso para manter a
palavra, a dignidade e a reverência, virtude comum aos simples que viviam no
campo.
Dona Fidelcina, carinhosamente chamada de Dezinha, fez sua Páscoa
hoje. O legado que deixa depois de 91 anos de vida para os filhos e netos é,
sem dúvida, a inspiração e força que vem da terra, da agricultura, da família,
dos valores e da fé. Deve, sim, a família Brito, sentir-se honrada e
agradecida a Deus por ter acompanhado a trajetória desta senhora, que foi mãe
de dois vereadores de Brasilândia e uma legião de amigos.
Mais que isso: resta sentir gratidão por ter recebido de seus braços, desde a
juventude até seus últimos dias, o maior presente que uma mãe pode dar ao
filho: a vida, o exemplo e o afeto. Descanse em Paz dona Fidelcina.
Publicado originalmente em 19 de outubro de
2020.
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