quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Há dois anos Dona Dezinha partia

 

Dona Fidelcina de Souza Brito, os sonhos, a família e a terra.
Carlos Alberto dos Santos Dutra


Texto - Imagem - Voz

Falar sobre pessoas é sempre um desafio, sobretudo no momento da despedida. O coração embarga e as palavras faltam. Principalmente quando a perda é de um amigo. No desejo de lhe prestarmos solidariedade naquele momento de dor, inevitavelmente nos vem à mente o desejo de exaltar a memória daquele que parte. Ainda mais quando se trata do bem mais precioso que carregamos no peito, para toda a vida: a nossa mãe.

E lá a encontramos, ainda em sua juventude ao lado do esposo, rodeada dos filhos, olhando o futuro naqueles tempos primeiros, há cinquenta anos atrás. Assim foi com dona Fidelcina de Souza Brito. Desde quando nasceu no dia 4 de março de 1929 seus sonhos sempre os teve, e nunca lhe intimidou a vida simples da roça; atravessou infância e juventude sempre com força e coragem.

Depois de moça, casada com Antônio Benedito de Souza, construiu e manteve o leme da casa com sabedoria e segurança, educando os cinco filhos que Deus lhe deu: Jandira, Benedito, José, Antônio Aparecido e Irineu. Ao lado do esposo aportou por Brasilândia no dia 21 de setembro de 1969, quando a cidade ainda era uma criança, tinha apenas quatro anos de emancipação político-administrativa, lembra o filho Irineu de Souza Brito.
 
Antes de aqui chegar, vindo do Estado da Bahia, a família passou por Erculândia até Ouro Verde como trabalhadora rural, derrubando mata e formando plantações de café para fazendeiros da região. Com o passar dos anos, conseguiram tocar sua própria plantação de café em regime de porcentagem com os cafeicultores da alta paulista, recorda com orgulho o filho Irineu.

E foi ali, no Sitio São Benedito, que uma das famílias mais antigas da Brasilândia que emergia instalou-se permanecendo até os dias atuais. Dona Fidelcina, de voz firme e comedida, espalma a mão de lavradora sobre os olhos e mira longe a poeira do estradão da antiga estrada do porto, hoje praticamente zona urbana no município de Brasilândia.

Ah, como o tempo voa.

Na lembrança saudosa do filho Irineu, a memória ainda está lá rodopiando nos pensamentos. Quando a família aqui chegou vinda de São João do Pau D’Álho era ano eleitoral: Era 1969 e a cidade realizava um comínio do então candidato a prefeito Julião de Lima Maia. Chegando ao bairro Pipoca, em frente ao bairro Cabeceira Perdida, ali tinha um time de futebol dirigido pelo saudoso José Rodrigues, e onde os filhos da dona Fidelcina foram se enturmando e onde o Zé Brito mostrou mais habilidade com a bola do que o caçula Irineu, sorri o irmão ao contar.

O esposo de dona Fidelcina faleceu em 27 de janeiro de 1988 quando os filhos já estavam criados e realizados. E que logo cercaram a mamãe viúva de flores, netos, genros e noras, sobrinhos e amigos, tornando sua vida mais leve e feliz, depois da dura luta pela sobrevivência comum àqueles que vivem da terra.

Os anos passaram e a idade chegou e, junto dela, os abalos à saúde. Mas manteve-se firme, sempre lúcida e olhar aguçado, tal qual um angico de firme cerne, esteio da casa, sempre conselheira, norte de fé, apontando o rumo e a experiência dos mais antigos: era capaz de dar a vida se preciso para manter a palavra, a dignidade e a reverência, virtude comum aos simples que viviam no campo.

Dona Fidelcina, carinhosamente chamada de Dezinha, fez sua Páscoa hoje. O legado que deixa depois de 91 anos de vida para os filhos e netos é, sem dúvida, a inspiração e força que vem da terra, da agricultura, da família, dos valores e da fé. Deve, sim, a família Brito, sentir-se honrada e agradecida a Deus por ter acompanhado a trajetória desta senhora, que foi mãe de dois vereadores de Brasilândia e uma legião de amigos.

Mais que isso: resta sentir gratidão por ter recebido de seus braços, desde a juventude até seus últimos dias, o maior presente que uma mãe pode dar ao filho: a vida, o exemplo e o afeto. Descanse em Paz dona Fidelcina.

 

Publicado originalmente em 19 de outubro de 2020.

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