quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

 

Dona Baiana, uma pioneira admirável

Carlos Alberto dos Santos Dutra 

Poucas pessoas despertam em nós simpatia. Menor número delas, altruísmo. Um número ainda mais reduzido é capaz de causar em nós admiração.

Dona Baiana é uma dessas pessoas que podemos classificá-la como sendo uma daquelas que despertam em nós o sentimento raro da compaixão.

Não em razão de sua condição social que a vestiu sempre com as cores sóbrias da simplicidade, mas pela sua história de vida, contada muitas vezes por ela mesma para quem se disponha ouvi-la.

Pois esta senhora, hoje com 96 anos de idade, tem uma história de vida admirável. Venceu os revezes e suportou em silêncio as agruras da sorte, sem nunca desistir de sua fé, diligente e sólida na honra e consciência do dever cumprido, sábia pedagoga, na mantença do lar e a educação apurada que fazia circundar ao seu redor.

Pois esta senhora, nascida lá no sertão da Bahia, no lugarejo chamado Arraial de Caculé, região do polígono das secas do Nordeste de origem centenária do período escravagista brasileiro, recebeu o bonito nome de Carolina Francisca de Carvalho quando foi batizada.

Foi trilhando as estradas daquele Arraial, desmembrado de Caetité que, no dia 1º de abril de 1926, seu Elpídio Antônio de Carvalho ergueu os braços aos céus agradecendo a Deus mais uma filha que sua esposa, Francisca Maria de Jesus lhe ofertava. 

A família da jovem Carolina era formada por 12 irmãos. E sorridente o pai, logo se encarregou de ir até o Cartório do distrito de Ibiassucê, que tinha o codinome de Capital da Amizade, para registrar a menina.  

Vivendo em Brasilândia, desde 1968, dona Carolina labutou por 18 anos na Tora Queimada, lugar onde ela e seu companheiro Cícero Pereira Magalhães, com quem viveu 22 anos e ajudou a criar os filhos dele, Hélio, Manoel e Milton, e acolheram o pequeno Fernando, do qual ela foi mãe de coração por toda a vida. 

Nestes anos primeiros, a família trabalhou com o espanhol dono da máquina de arroz que ali existia, época que ela recorda que era vizinha da dona Ana, do saudoso seu Izaías, que viviam na região que hoje dá acesso ao Reassentamento Pedra Bonita.

Depois, já residindo na cidade, com os passar dos anos, nos acostumamos a vê-la em sua casinha simples localizada na esquina da antiga Avenida Arapuá, nº 50; rua que, depois, teve o nome modificado para Wilson de Arruda.

Vivia ali tranquila, até o dia em que precisou regularizar a situação de seu pequeno imóvel, tendo solicitado a um amigo advogado que providenciasse os papeis para a Usucapião. Foi quando, um dia desses, como que do nada, apareceu um proprietário alegado que o terreno lhe pertencia, dando a entender que dona Baiana tivesse vivido ali, todo este tempo, de favor.

Passado o temor inocente daquela senhora, felizmente o bom senso prevaleceu e um acordo amigável, com a intervenção de um comprador interessado no lote, garantiu à dona Carolina poder adquirir uma boa casa no bairro Mão Amiga, onde vive até os dias de hoje.

Muito séria e correta, sempre foi uma pessoa comedida, porém, de grandes gestos de acolhimento, ajudando sempre a quem precisasse. Talvez, por não ter tido filhos naturais tenha sido sempre tão generosa e carinhosa com os estranhos.

Quando a saúde ainda lhe fazia companhia, ela percorria grandes distâncias, desde sua casa até a igreja matriz da Paróquia Cristo Bom Pastor para fazer suas preces, sendo devota frequentadora das missas dominicais.

Terminada as celebrações, rapidamente ela se recolhia a sua casa, arrastando em torno de si respeito e espírito de oração que irradiava a todos que se encontravam a sua volta.

Sempre muito ativa e decidida, já com idade avançada, cismou de conhecer as letras e lá a encontramos aprendendo a ler e escrever, tornando-se uma dedicada aluna, quiçá professora de história na escola da vida, exemplo para todos nós.

Esta senhora, pioneira de nossa cidade, hoje vive resignada no seu lar na rua Bartolomeu Viana Cavalcante, nº 1005, próximo a CEINF Giselle Ribeiro Hippler, acompanhada por uma família cuidadora. Às vezes esquece algum nome, mas de súbito, lembra de tudo e esboça um sorriso de alegria com brilho nos olhos.

Agradecida por receber uma visita e a Sagrada Eucaristia a cada quinze dias, permanece ali, deitada no sofá a espera dos amigos que têm a oportunidade e a graça de poderem abraçá-la. 

À essa pioneira de Brasilândia, postulamos nossas homenagens e votos de saúde e paz, alegria e felicidade. Amamos a senhora, dona Carolina!

Brasilândia/MS, 14 de dezembro de 2022.

Foto: Dutra, 2008


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