quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

 

Sara Hita: catequese, testemunho e saudade.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


Corria o ano de 2017 e a catequese da Diocese de Três Lagoas se encontrava de luto. Deixava-nos a mestre das catequistas Sara Hita Barbosa da Fonseca. Por um longo período ela, que fez parte da história da iniciação cristã de tantos catequizando, no curso de quatro décadas, deixou um legado que é marco na evangelização católica em Mato Grosso do Sul.

Ela já estava aqui há um bom tempo quando comecei a participar das reuniões diocesanas a partir de 1986 e os anos que se seguiram, depois, já sob o impulso e reflexo da dimensão bíblico-catequética proposta pela CNBB às vésperas do 3º milênio nos anos 1990. 

Aqueles olhinhos atentos e gestos dinâmicos, serelepe, lá estava aquela senhora jovem em espírito, religiosamente, em todas as assembleias diocesana e Foranias, apresentando cada passo conquistado pela Catequese, pastoral de seus sonhos, sempre pleiteando prioridade, apontando caminhos, indicando documentos e abrindo horizontes para uma Diocese ainda conservadora e tradicionalista em suas ideias e costumes.

E ela soube descortinar a nova Evangelização com sabedoria e paciência, embora sempre fora uma missionária proativa por natureza. Propôs aos padres e agentes de pastoral uma releitura da Catequese a partir das reflexões do Magistério, por vezes visto com desconfiança por alguns leigos contribuindo para que o clero se abrisse para a realidade do mundo. 

Com o apoio de D. Izidoro Kosinski, na época, e as pastorais sociais, pautadas no serviço, diálogo, anúncio e testemunho, lá estava ela, engajada, levando a mensagem àqueles coraçõezinhos inocentes as verdades perenes sobre a fé e a vida. Mais do que uma coordenadora de pastoral da Catequese, ela era também esposa, mãe, avó e amiga de todos, sempre disposta e solícita.

Ah, meu Deus. Mas como somos esquecidos de nossos mestres, líderes e daqueles que tanto fizeram por nós, por nossa pastoral, por nossa Igreja... E cá estamos nós chorando e lembrando sua partida, nos penitenciando, por não a ter acompanhado mais de perto nos seus últimos dias, como Igreja, dedicando-lhe um sorriso, um abraço de gratidão.... 

O sorriso contido como o de Sara Hita, entretanto, há de permanecer na lembrança de todos, por guardar um tempo que foi de todo singular e aos poucos se esmaeceu... Mas que deixou um rastro de flores pelo caminho para ser trilhado por aqueles que seguiram seus passos e souberam valorizá-la.

A mestra catequista agora voltou a ser criança e já não se importa mais com o passado. Seus pesinhos pirilampos, balançam sob o galho de um salso chorão à beira de uma das três lagoas encantadas que o tempo vai consumindo. Hoje ela não poderia estar em lugar melhor. Se encontra aos cuidados do maior de todos os Catequistas. 

A menina Sara está agora nos braços do Pai Eterno, com as mãozinhas ao redor de seu pescoço, cantarolando cantigas de ninar, em meio a rosas celestiais perfumadas, belas como ela, sorrindo para todos nós que, por enquanto, por aqui permanecemos. Um brande beijo para você Sara Hita!

Brasilândia/MS, 29 de dezembro de 2022.


Fonte: DUTRA, C.A.S. Quando eu me chamar saudade, Brasilândia, 2022, pág. 180.

 

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