sábado, 31 de dezembro de 2022

 Dona Ana, do seu Raimundo, faz 91 anos

 Carlos Alberto dos Santos Dutra



Falar sobre dona Ana é como falar de uma flor. Todos a contemplam e admiram sua cor, sua beleza e esplendor, sobretudo quando exala seu perfume e sorriso agradáveis que ganham distâncias.

Uma flor pode ter muitos nomes. Porém, não fosse a fidelidade e persistência de quem a cultivou, ela não resistiria a ação do tempo.

E assim, nossa linda flor, ano após ano, sendo cultivada e zelada por mãos de fada, com paciência e destemor de uma jovem mulher, ela permanece entre os seus até hoje.

Depois de deixar para trás suas raízes e o sol escaldante do Ceará e unir-se ao amor de sua vida, Raimundo Pedro de Souza, da região do Crato, aquerenciou-se por estas terras, na Fazenda Pinheiro. Era o ano de 1955.

Os 19 anos que o casal ali permaneceu foi o tempo necessário para que dona Ana pudesse ver crescer os 15 filhos, dos 16 que Deus lhe deu.

A história desta mulher, entretanto, só depois, quando o casal deixou a zona rural, em 1976, e passou a morar na cidade, é que sua trajetória pode ser melhor entendida, admirada e reconhecida.

Foi quando todos, em especial os filhos que foram se tornando adultos, puderam ver com os olhos do coração o quão valorosa fora aquela valente senhora que os criou.

Que mulher! Que heroína! Viver naqueles tempos. Superar as dificuldades, as doenças e as privações numa época onde a distância era o maior obstáculo ao conhecimento e à sobrevivência. E sempre em silêncio.

E lá estavam os filhos: João, José, Erotides, Fátima, Antônia, Adelaide, Josualdo, Antônio, Teresinha, Ilda, Clodoaldo, Francisco, Melchior, Conceição, Walderley, um a um, vendo aquela matriarca guerreira driblando a sorte na mantença do lar, zelando sempre pelos valores da fé e os costumes da família.

Pequenos milagres diários, como acariciar o filho com uma mão e preparar o alimento com a outra. Tantas bocas, tantas carências, tudo suplantado pelo amor de uma mãe. Coser o agasalho, providenciar o remédio, secar as lágrimas, não perder a esperança...

Logo os mais velhos já começaram a trabalhar e lá estava a mãe, com uma pontinha de vaidade vendo-os tomar rumo na vida, confiante no sucesso de seus rebentos, incentivando-os a cada instante.

Filhos, pelos quais sempre zelou e primou pela reta formação, o temor a Deus e o respeito à família. Exemplo como nunca se viu. Sob a vigilância permanente do patriarca, a família se manteve firme numa fé inabalável como devotos de Padre Cícero e da Virgem Maria Nossa Senhora.

Hoje o dia nos envolve a todos com o perfume dessa flor e de várias outras flores e aromas que se achegam com o tempo até ela. Porque dona Ana, completa hoje 91 anos e, em meio a sua completa felicidade, ainda abre espaço no seu coração para acolher, além dos filhos, seus netos, bisnetos e tataranetos.

Ainda mais: genros, noras, cunhados, sobrinhos, afilhados, vizinhos, amigos, comadres de reza e de fé no círculo bíblico, manifestando sempre respeito e acolhimento, dedicando a todos especial carinho e atenção.

E sorri. Ah! Esse sorriso que irradia luz na brandura de seus gestos, comedidos, singelos, mas sempre espontâneos, elegantes e generosos.

E lá vai donAna ao lado de suas filhas mais velhas, confundindo-se com elas, insistindo em se ocupar nos afazeres da casa. Porque ela nunca perdeu o hábito e o tino para a lida, mesmo depois que a saúde ameaçou roubar-lhe as forças e afastá-la do cotidiano. Ela nunca foi uma mulher de desistir.

E ela estava lá, com sua bengala, um sorriso maroto e olhos muito atentos, concentrada, ensaiando novos passos, apontando rumos, mostrando o quanto permanece forte, decidida e independente.

Quando ia à Igreja, receber a santa comunhão, aquilo era sagrado. Depois, pelas mãos de uma ministra, permaneceu sempre em comunhão com sua Fé. No ano que passou, o próprio Cristo consagrado foi à sua casa lhe fazer companhia pelas mãos do sacerdote, padre Fábio, que celebrou missa de ação de graça no seio de sua família, na companhia do diácono Carlito.

É essa força do Alto que mantém forte e com o vigor essa valorosa mulher. É essa força celeste que demonstra quando se dedica ao bordado criando peças lindas destinadas à Canção Nova. Ou quando brinca com o fuso manejando-o com habilidade, cardando a lã, fazendo renascer a vida, demonstrando que não esqueceu o que aprendeu com seus pais, numa arte cada vez mais rara.

Essa é a dona Ana que hoje aniversaria e que enche a todos de alegria. Motivo de bênção para toda essa grande família, que só tem a agradecer a Deus pela sua vida, pela sua alegria, e pelo carinho que sempre dedicou de forma generosa a todos que bateram à sua porta. ‘Dos que me deste, Senhor, nenhum se perdeu’.

Dona Ana já não é mais uma flor: é a mãe jardineira de um amplo jardim, onde os corredores sempre floridos, são seus braços, sempre abertos, muito vivos, verdadeiros, francos, cheios de amor para nos acolher e nos abraçar. Obrigado dona Ana.

Feliz Aniversário dona AnaAmamos você. 

Brasilândia/MS, 31 de dezembro de 2023.









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